segunda-feira, 27 de agosto de 2012

CONHEÇA O CLUBE: Torino - O Touro enfraquecido

"O Grande Torino".  Time que dominou a Europa nos anos 40
O futebol italiano nem sempre resumiu-se a Milan, Inter e Juventus (os maiores campeões da velha bota): existia um clube que ajudou no crescimento do futebol no país, que já foi base da azzurra e que dominou a Europa nos anos 40.
Com sete conquistas no currículo, o Torino é um dos grandes campeões da Itália que luta por dias melhores e que hoje vive ofuscado pelas glórias do seu grande rival, a Juventus. 

O clube nasceu numa reunião num bar no centro de Turim (cidade localizada ao norte da Itália, a 730km da capital Roma) no dia 3 de dezembro de 1906, numa aliança entre a Internationale Torino (fundada em 1891) e o extinto FC Torinese (fundado em 1894). Aos membros dos dois clubes, uniram-se alguns dissidentes da Juventus (fundada em 1897) que discordavam da decisão da diretoria sobre tirar a sede do clube da cidade de Turim. Liderados por Vittorio Pozzo (que se tornaria, mais tarde, técnico bicampeão mundial em 1934-38 e campeão olímpico em 1936 com a seleção da Itália) e pelo suíço Alfredo Dick, nascia o Torino Football Club. 

O clube jogava no único estádio da cidade, o Velódromo Umberto I, onde Dick possuía um contrato de arrendamento. O time jogava com as cores do Torinese – camisa com listras em amarelo e preto e calções escuros, mas o clube logo mudaria suas cores para grená. 

Existem duas versões na história do clube que dão razões à mudança: uma delas é relacionada a um dos fundadores do Torino, Alfredo Dick, fã incondicional do Servette de Genebra. Ele teria resolvido mudar as cores do uniforme do Torino para grená para homenagear o time suíço. A outra versão é relacionada a razões mais nobres: a inspiração seria uma homenagem à Brigada Savóia, que ajudou a libertar a cidade de Turim dos franceses em 1706. No retorno da batalha, os soldados da realeza trajavam lenços na cor vermelha, simbolizando o sangue do inimigo. Por isso, o clube também seria conhecido como “Il Granata”, por suas novas cores oficiais. 

A primeira partida oficial do Torino aconteceria treze dias após a sua fundação, contra os ingleses do Blackburn Rovers, em Vercelli (a uns 80km de Turim). Vitória do time grená por 3x1. 

O Torino já nasceu forte: contava com jogadores do Torinese (que na época dominava o futebol italiano) e com alguns jogadores da Juventus. Já os membros da Vecchia Signora não aceitavam a perda de alguns dos seus para o novo clube – dando origem, assim, a uma das maiores rivalidades do futebol mundial (tanto que o confronto entre as duas equipes passou a ser conhecido como Derby della Mole, ou Derby da Massa). 

O primeiro confronto entre as duas rivais de Turim aconteceu aos 13 de janeiro de 1907, com vitória grená por 1x0. Na história desse derby (que já conta com 104 anos), foram disputadas 227 partidas, entre amistosos e em competições pela Itália, com 91 vitórias da Juve, 62 empates e 74 vitórias do Torino.
Os grenás de Turim disputaram seu primeiro torneio oficial no mesmo ano de 1907. E como estreantes fizeram bonito, chegando ao vice-campeonato (perderam para o Milan). 

Anos depois, na temporada de 1914/15, Vittorio Pozzo levaria a equipe numa excursão pela América do Sul, onde o Torino enfrentou grandes times argentinos e brasileiros (entre eles o Corinthians: em dois jogos contra os paulistas, venceram por 3x0 e 2x1). Foram disputados seis jogos contra os sul-americanos, todos vencidos pelo time de Turim. 

Outra participação satisfatória do Torino foi no principal campeonato da velha bota, no qual o time que brigava entre os melhores times do “calcio” pela conquista do título italiano. Desta vez, o algoz dos grenás foi o Genoa, que ficou com a taça. Numa Europa que vivia a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o torneio foi suspenso. Em 1919, após o término dos conflitos da Grande Guerra, a Federação Italiana deu o título ao Genoa sem mesmo ter jogado a decisão contra o Torino. 

Mesmo não tendo tido sucesso nos anos anteriores, o Torino seguia entre os grandes do país, como Milan, Inter, Juventus, Pro Vecelli, Bologna e Genoa. O primeiro título veio na temporada de 1926/27. Entretanto, a conquista fora manchada por um escândalo: a Federação Italiana revogou o título dos grenás por causa das acusações da Juventus, que havia terminado o campeonato em segundo lugar. Segundo a Vecchia Signora, o clube grená teria subornado os adversários para prejudicá-los. Sendo assim, o Torino perdeu o título, que não foi repassado para a Juve por decisão da Federação. Naquela temporada, a Itália ficou sem um campeão. 

O escândalo não abalou o clube, que finalmente conquistaria o Campeonato Italiano na temporada seguinte. Mas foi uma conquista isolada na história do clube, que passaria boa parte da década seguinte sem títulos. 

Na temporada de 1935/36, o clube conquistaria a segunda edição da Copa Itália, o segundo maior torneio de clubes do país. O adversário foi o UC Alessandria, da cidade de mesmo nome. O Torino levou a taça com uma goleada de 5x1. No ano seguinte, o clube mudou o nome de Torino Football Club para Football Club ad Associazione Calcio Torino, por pressão do governo fascista de Benito Mussolini, que torcia para a Lazio. 

Em 1938, o clube chegaria à segunda final da Copa Itália contra a Juventus – desta vez o Torino sofre a derrota por 3x1, perdendo o título para seu maior rival de Turim. 

O Torino entraria na história do futebol europeu e mundial nos anos 40: “Il Toro”, como também é conhecido, montou um dos melhores times de sua história e um dos mais poderosos tecnicamente no futebol da velha bota. Num país onde os times eram caracterizados pelas fortes defesas, o Toro revolucionou o futebol italiano jogando com um ataque poderoso, marcando muitos gols. 

Nas primeiras temporadas da década, o Torino não conseguiu superar Inter, Bologna e Roma, que foram campeões em 1940, 1941 e 1942, respectivamente. Nas demais temporadas, prevaleceu o domínio do time grená. Depois de 15 anos do seu primeiro scudetto, o Toro venceu o campeonato da temporada de 1942/43 com uma vantagem de um ponto do vice-campeão Livorno e sete pontos de vantagem do terceiro colocado, a rival Juventus. 

Na mesma temporada, o Toro conquistou pela segunda vez a Copa da Itália, com uma sequência de 5 vitórias em 5 jogos. Enfrentou Anconitana (7x0), Atalanta (2x0), Milan (5x0), Roma (2x0) e Venezia (4x0), sendo coroado como o maior campeão da Itália. O Torino bateu o recorde com os expressivos 20 gols marcados e nenhum gol sofrido, marca jamais vista neste curto torneio. Pela primeira vez na história do futebol italiano desde a criação da Copa Itália, um clube conquistaria, na mesma temporada, os dois principais campeonatos do país. 

Nos anos de 1944 e 1945, o campeonato (que se profissionalizou em 1929) teve uma nova paralisação por decorrência dos combates da Segunda Guerra Mundial. A Itália fora invadida pelos Aliados (liderados por Inglaterra, EUA e URSS), já que país estava no foco mundial por fazer parte das Potencias do Eixo (ou o Terceiro Reich, lideradas pela Itália de Mussolini, a Alemanha de Hitler e o Japão). Para manter as disputas e também fugir dos bombardeios aéreos, os clubes decidiram jogar somente em torneios regionais. Mesmo com a iniciativa de dividir as disputas entre times de cidades próximas, a Federação Italiana não oficializou as disputas. Então, em dois anos (temporadas de 1943/44 e 1944/45), não houve um campeão italiano.

Numa dessas disputas regionais, o Torino foi campeão do torneio da Guerra na Região do Piemonte, com sete pontos de vantagem da Juventus, o segundo colocado.

Após o fim da Guerra, em 1945, o Torino voltou no auge da sua qualidade técnica, rendendp-lhe o apelido de “Il Grande Torino” . Comandados pelo capitão do time, o meia-atacante Valentino Mazzola, contavam com o ótimo goleiro Valério Bacigalupo, o defensor Aldo Ballarin, os meias Ezio Loik e Mário Rigamonti, os atacantes Romeo Menti, Piero Operto, Guglielmo Gabetto e do artilheiro Eusébio Castigliano. O clube venceu seu terceiro campeonato, superando novamente seu maior rival. 

O domínio do Toro na velha bota era tão avassalador que 17 jogadores do time formavam a base da seleção italiana que buscaria o tricampeonato mundial (já havia vencido em 1934 e 1938) na Copa de 1950, no Brasil. Para se ter uma ideia desse domínio, a Azzurra disputou uma partida contra a Hungria de Ferénc Puskás em maio de 1947 (vitória italiana por 3x2). Dos 11 jogadores que entraram em campo, somente o goleiro não era atleta do Torino. Graças ao time grená, os italianos eram os fortíssimos candidatos ao título mundial na América do Sul.

Em 1947, o Toro chegaria à sua melhor temporada da história. Não foi apenas o melhor e o mais forte time do campeonato, conquistando o quarto scudetto seguido, ainda atingiu o maior número de gols marcados numa temporada: 125 (média de 3 gols por jogo), aplicando goleadas expressivas contra o Alexandria (10x0 em Turim) e Roma (7x0 na capital italiana). O clube grená também atingiu a marca de 65 pontos em 40 jogos (a maior pontuação da história do campeonato na época, tendo em vista que cada vitória valia 2 pontos) e ainda obteve a maior vantagem da história em relação ao segundo colocado (16 pontos de diferença da vice-campeã Juventus). 

Numa Itália destruída pela guerra e em processo de reconstrução, os triunfos do Torino e da seleção italiana, aliados a um futebol apaixonante, de muita qualidade, ajudavam a população a esquecer um pouco dos horrores pelos quais passavam por seis anos. 

O Grande Torino voltou à América do Sul em 1948 e no Brasil enfrentou o Corinthians novamente, depois de 34 anos. Jogando num Pacaembu completamente lotado, o Timão venceu o time de Mazzola, Baciagalupo, Rigamonti, Gabetto e Castigliano por 2x1 (gols de Baltazar e Colombo. Gabetto marcou para os italianos). Além do Corinthians, o Toro também enfrentou Palmeiras, São Paulo e Portuguesa no Pacaembu. Foram dois empates (1x1 com Palmeiras e 2x2 com o São Paulo) uma vitória (4x1) contra o time do Canindé.
Em 1949, o Torino estava prestes a conquistar mais um campeonato italiano, o quinto consecutivo (tinha uma vantagem de 4 pontos da Inter de Milão) e, faltando 4 partidas (sendo 3 delas em Turim) para o encerramento, o time faria um amistoso contra o Benfica, em Lisboa. 

Esse amistoso fazia parte das homenagens para o capitão lusitano João Ferreira, que estava deixando o futebol e também era amigo de Valentino Mazzola – por isso o convite à Torino. Em campo, os grenás foram derrotados por 4x3. No retorno à Itália, o avião da delegação enfrentava chuva e um forte nevoeiro na chegada a Turim quando, de repente, o Fiat G212 chocou-se contra uma das torres da Basílica localizada no topo do Morro de Superga, com 600 metros de altura e coberta pela névoa. 

Era o primeiro desastre aéreo envolvendo uma equipe de futebol – e também a mais notável equipe do mundo. Ficou conhecido como “A Tragédia de Superga”.
O time que encantou o mundo e que mudou o estilo de jogar futebol na Itália foi tragicamente derrotado no dia 04 de maio de 1949, às 17:05. Todos os 31 ocupantes da aeronave – 18 jogadores, 6 membros da delegação, 3 jornalistas e 4 membros da tripulação – morreram na hora. Dos 18 atletas mortos, 10 faziam parte da seleção italiana que iria ao Brasil disputar o Mundial de 1950. 

O acidente chocou o país inteiro e coube ao técnico da Azzurra e ex-dirigente do Toro, Vittorio Pozzo a dura missão de reconhecer os corpos dos atletas mortos. No mesmo dia do acidente, a Ferderação Italiana declarou o Torino o campeão daquela temporada, mas os dirigentes do Toro não aceitaram tal proposta: queriam conquistar o título no campo, como deveria ser. Em homenagem aos 18 atletas mortos no Morro de Superga, o Torino decidiu cumprir os 4 jogos que lhe restavam para conquistar o quinto scudetto seguido. 

O destino salvou alguns jogadores daquele “Grande Torino” que encantou e também dominou a Europa e o mundo nos anos 40. Contratempos que impediram a ida destes atletas a Portugal, como, por exemplo, o defensor Sauro Tomá, que estava com uma lesão no joelho. O meia Luigi Giuliano também se salvou porque não conseguiu obter o passaporte a tempo de viajar com a equipe. O craque hungaro László Kubala, que tinha um pré-contrato com o Pro Pátria e não podia atuar profissionalmente porque estava suspenso pela FIFA, acusado de deserção pelo governo húngaro, foi convidado pelo Torino a participar da despedida de Ferreira. Kubala não pode viajar com o time porque sua família tinha chegado à Itália e seu filho estava com problemas de saúde.
O funeral foi realizado dois dias após a tragédia que assolou o mundo do futebol. Cerca de 500 mil pessoas de todos os cantos do país compareceram ao velório dos jogadores. Toda a cidade de Turim estava de luto por uma só equipe. Foi uma comoção nacional. Representantes da Federação Italiana e de todos os clubes da velha bota estiveram nas homenagens. 

Pelo mundo, alguns clubes também prestaram suas homenagens ao “Grande Torino”. A FIFA decretou oficialmente, 1 minuto de silêncio nos jogos oficiais. No Brasil, o Corinthians (que tinha boas relações com o Toro) entrou em campo pelo Campeonato Paulista, na vitória de 2x0 contra a Portuguesa no Pacaembu, vestindo camisas grenás com o scudetto (um escudo com as cores da bandeira italiana) bordado no lado esquerdo do peito (que simboliza o atual campeão da Itália). Na Argentina, o River Plate realizou diversos amistosos para homenagear e arrecadar fundos para os familiares das vítimas. 

Nove dias após ao funeral dos jogadores daquele histórico time, o Torino voltou a campo com o time juvenil para cumprir os quatro jogos que faltavam para se declarar campeão e honrar os jogadores que levaram o clube a essa posição. Os quatro rivais, demonstrando profundo respeito ao Toro, entraram em campo também com equipes juvenis. No primeiro confronto, o Torino venceu o Genoa por 4x0, depois foi Palermo (4x0), Sampdoria (3x2) e por fim Fiorentina (2x0), conquistando o sexto título da história, quinto seguido – a mais amarga e dolorosa conquista de todas que o Torino venceu em seus 42 anos de vida.
Após o jogo contra a Fiorentina, em Turim, cerca de 30 mil pessoas marcharam em direção ao Morro de Superga em tributo as vítimas. Anos depois, foi erguido um memorial homenageando os 31 mortos. 

O futebol italiano ficou tão chocado com a Tragédia de Superga que a seleção viajou ao Brasil de navio. Além disso, o time ofensivo que conquistou o mundo deu lugar a um time desfigurado. Com isso, a Azzurra foi eliminada na primeira fase da Copa do Mundo de 1950. 

O “Grande Torino” dos anos 40, que conquistou 5 títulos italianos e uma Copa da Itália, marcou 408 gols, sendo 97 do craque Valentino Mazzola (que também é o maior artilheiro da história do clube com 118 gols, recorde mantido até hoje), com seu característico futebol ofensivo, ficou pra trás – dando lugar ao velho estilo italiano, focado na defesa. 

O clube sentiu o forte baque depois de perder o maior time de sua história e não teve mais força para disputar de igual para igual contra seus maiores concorrentes. Ciente da situação do clube, a Federação Italiana decidiu que mesmo com uma colocação desfavorável o Torino não seria rebaixado nos 4 anos seguintes. Mesmo com essa “ajuda”, o time atormentado e despedaçado pelo destino terminou os campeonatos seguintes em posições intermediárias. Até que na temporada 1958/59, o Toro terminou em 17ª posição, com 23 pontos, sendo rebaixado para a segunda divisão pela primeira vez. 

O Torino voltaria ao cenário nacional nos anos 60 com um novo craque. Luigi “Gigi” Meroni chegou a Turim em 1965, contratado junto ao Genoa. Gigi era um meia atacante leve, rápido, driblador e tinha muita facilidade em passar com a bola entre as pernas de seus adversários. Seu estilo e habilidade e, principalmente, seu porte físico, levaram muitos a compará-lo com a lenda norte-irlandesa George Best. Meroni foi o responsável por colocar o Torino de volta entre os melhores da Itália. 

Na temporada 1964/65, o Torino conseguiu sua melhor posição no campeonato italiano depois de Superga, terminando o campeonato em terceiro, com 44 pontos – atrás de Milan e da campeã Inter. No mesmo ano, o Toro chegaria às semifinais da hoje extinta Taça dos Campeões das Taças da UEFA, na qual foi eliminado pelo Munique 1860 da Alemanha com uma vitória por 2x0 em Turim e uma derrota por 3x1 em Munique, somando o placar agregado de 3x3. No jogo de desempate, em Zurique, o Torino foi derrotado por 2x0, classificando os alemães para a grande final contra o West Ham de Geoff Hurst e Bobby Moore, em Wembley. 

Em 1966, Meroni foi convocado pela seleção italiana para jogar a Copa do Mundo, disputada na Inglaterra. Mas a Azzurra foi eliminada na primeira fase do Mundial com uma vitória (2x0 no Chile) e duas derrotas (1x0 para Coreia do Norte e 1x0 para a antiga URSS). O craque do Toro não atuou em nenhuma partida. Ele seria escalado contra a Coreia do Norte, mas gerou polêmica quando foi barrado pelo técnico Edmondo Fabbri porque recusou-se a cortar seu cabelo, que estava comprido. 

De volta ao Toro, Gigi estava à frente do time que lutava para conquistar novamente um scudetto, o que não vencia desde 1949. Mas uma nova tragédia estaria no caminho dos grenás. Em 15 de outubro de 1967, após uma vitória sobre a Sampdoria em Turim, Meroni voltava para casa quando foi surpreendido por um torcedor fanático que o atropelou, matando-o na hora. A morte de Gigi Meroni, aos 24 anos (que jogou em 103 partidas com a camisa grená, marcando 22 gols), abalou de vez o Torino, que sofria a segunda tragédia de sua história. O baque refletiu dentro de campo: o time que disputava o título terminou o campeonato na sexta colocação, atrás de Bologna, Inter, Fiorentina, Juventus, Napoli e do campeão Milan. No mesmo ano, o time grená dedicou as poucas forças que restaram após a morte de Meroni à conquista da Copa Itália pela terceira vez, derrotando Milan, Inter e Bologna no quadrangular final. 

Nos anos 70, “Il Granata” mudaria o nome pela segunda vez: de Football Club ad Associazione Calcio Torino, para Torino Calcio. com a mudança do nome, chegaram novas conquistas. Na temporada 1970/71, os grenás venceriam pela quarta vez a Copa da Itália ao derrotar o Milan nos penaltis por 5x3, depois de empatar no tempo normal e na prorrogação por 0x0. 

Nos anos seguintes, o clube não conseguiu brigar pelas primeiras colocações, terminando sempre em posições intermediárias. 

Em 1976, o Torino venceria seu sétimo scudetto, título que não conquistava há 27 anos, desde o trágico ano de 1949. Entre os destaques daquele ano estavam o meia Giorgio Ferrini, os atacantes Francesco Graziani e Paolo Pulici – que foi o artilheiro do campeonato com 21 gols. 

Após a imensa alegria com a conquista, uma nova tristeza. O “Capitan” Giorgio Ferrini morreu, aos 37 anos, no dia 8 de novembro vítima de um aneurisma cerebral. Ferrini jogou de 1959 a 1976, atuando em 16 campeonatos seguidos com a camisa grená, num total de 566 jogos, com 53 gols marcados, vencendo 2 Copa da Itália (em 1968 e 1971) e um Campeonato Italiano (em 1976). 

Nos anos 80, o Toro passou a contar com jogadores brasileiros em seu elenco. Em 1984, contratou Júnior junto ao Flamengo e em 1987 foi a vez de Müller, que chegou contratado do São Paulo. Nenhum dos dois conquistou títulos, permanecendo poucas temporadas no clube. 

Em 1989, o Torino não fez uma temporada boa e foi rebaixado novamente para a série B, voltando na temporada seguinte, para a divisão principal como campeão. 

Dos brazucas que vestiram a camisa grená, o que mais se destacou foi Walter Casagrande Jr.

Contratado do Ascoli em 1991, Casão formou o ataque junto a nomes de peso como os italianos Gianluigi Lentini e Giorgio Bresciani, o belga Vincenzo Scifo e o espanhol Rafael Martin Vasquez. Com esse time, o Torino terminou o campeonato italiano em terceiro e chegou às finais da Copa da UEFA e da Copa da Itália. 

Em 1991, o Torino conquistou a Copa Mitropa (um torneio disputado entre os clubes da Europa Central) ao vencer o também italiano Pisa, no Estádio Delle Alpi em Turim, por 2x1. Foi a penúltima edição do torneio, extinto em 1992.
No mesmo ano, o Toro se destacou em outra competição internacional, desta vez pela Copa da UEFA (hoje UEFA Europa League). Eliminou o Knattspyrnufélag Reykjavíkur (KR) da Islândia, o Boavista de Portugal, o AEK da Grécia, o Boldklubben 1903 (hoje F.C.Kopenhagen) da Dinamarca e o Real Madrid da Espanha na semifinal. Na finalíssima contra o Ajax da Holanda, dois empates (2x2 em Turim e 0x0 em Amsterdã) consagraram os holandeses campeões pelo gol qualificado, ou seja, pelos dois gols marcados fora de casa. Vice-campeão, o Toro teve o terceiro artilheiro do torneio, Casagrande, com 6 gols marcados – entre eles um gol contra o Real Madrid e dois contra o Ajax na final. 

Em 1993 o Torino conquistaria a Copa Itália pela quinta vez. Superando Monza, Bari e Lazio e Juventus, o time enfrentaria a Roma na final. Uma vitória de 3x0 em Turim e uma derrota por 5x2 na capital italiana deram ao Toro a sua última grande conquista. 

Sem títulos e com graves problemas financeiros, o Torino passou a vender seus grandes jogadores. Um dos seus atletas mais promissores, Lentini, foi para o Milan. Outros atletas foram deixando o clube e foram chegando nomes como o craque ganês Abedi Pelé, o uruguaio Enzo Francescoli e o turco Hakan Sukur. Mesmo com nomes de peso, o time em campo foi um tremendo fracasso. 

A série de altos e baixos do clube resultou em outros rebaixamentos, como a queda para a segunda divisão em 1996, permanecendo lá por três temporadas. O clube retornaria à série A em 1999, voltando para a série B no ano seguinte. 

Dentre acessos e rebaixamentos, o Torino teve mais três, entrando num momento crítico do clube, que passava por muitas dificuldades para manter seus compromissos econômicos. 

Em 2005, o Toro foi promovido para o retorno à série A, mas o clube não tinha as garantias financeiras exigidas pela federação e sua promoção não foi permitida. Sem dinheiro, o Torino entrou na pior fase de sua história depois de Superga. O clube decretou falência em 2006. Comprado pelo empresário italiano Urbano Cairo, o clube tornou-se uma empresa. O Toro grená mudou de nome pela quarta vez, rebatizado como Torino Football Club S.p.A., voltando às origens. 

No dia 3 de dezembro de 2006, dia em que o Torino completava 100 anos de vida, e o primeiro ano de Urbano Cairo no comando do clube e jogando na série A, após algumas comemorações fora de campo, dentro dele o time fez seu papel vencendo o Empoli por 1x0, gol do lateral Gianluca Comotto. A festa deveria se estender por 1 ano, mas durou algumas horas. O desempenho do time no campeonato não foi dos mais satisfatórios, terminando duas posições acima da zona de rebaixamento. A festa não foi como os fãs do Toro esperavam, mas foi completa pelo fato de ver o maior rival na série B e manchado por escândalos de manipulação de resultados. 

Mesmo com a rivalidade histórica, Torino e Juventus sempre compartilhavam os estádios. Começou com a divisão do Velódromo Umberto I, depois o Estádio Delle Alpi e por fim o Estádio Olímpico de Turim (antes Estádio Comunale di Turim até 2006). Como a Juve construiu a Arena Juventus no lugar do antigo Delle Alpi, o Torino é o único clube que utiliza o Estádio Olímpico atualmente.
Lutando com poucas forças e com um baixo orçamento, o Torino não resistiu ao poderio de seus adversários. Em 2009, o time sofreu um novo rebaixamento, terminando a temporada em 18ª colocação, com 3 pontos acima de Reggina e Lecce. 

De acordo com pesquisa do Instituto Nielsen feita em 2008, o Torino possui a nona maior torcida da Itália, com um total de 1.153.000 milhões de torcedores.
O Torino é recordista de títulos nas categorias de base. No campeonato italiano de Juniores (conhecido como Primavera) são 8 conquistas. Na Copa da Itália da mesma categoria, outro recorde: são 7 conquistas. 

O Toro detém, ainda, a marca de maior número de vitórias em uma temporada (30 em 1945/1946). 

Na série B desde 2009, os fanáticos torcedores do Torino amargam há 2 anos a ausência do clube na principal divisão da Itália – e principalmente das taças. Na atual temporada (2011/2012), o Toro lidera o campeonato com 33 pontos (cinco a mais que o vice-líder Pescara), posição animadora para o clube, já que na temporada passada ficou em oitavo lugar – muito longe para as pretensões de um dos maiores clubes da Itália. 

Em março deste ano, Torino e Juventus deixaram de lado a rivalidade histórica de 104 anos e proporcionaram aos seus torcedores um encontro memorável no Estádio Olímpico de Turim, reunindo craques históricos para um amistoso beneficente. O Torino teve em campo ídolos como Júnior, Lentini e Pulici; a Juve teve Zidane, Nedved, Davids, Gentile e Ravanelli. Com a bola rolando, a partida – que reverteu 230 mil euros (cerca de R$ 550 mil) para a Fundação Vialli e Mauro – não teve vencedor. Com um destaque para genialidade de Zidane e a vitalidade de Júnior, a partida terminou empatada por 2x2 (Júnior e Lentini marcaram para o Toro e Nedved e Porrini marcaram pala Juve), mas o encontro foi histórico e matou a saudade dos fãs. 

Saudade é o sentimento maior dos torcedores do Toro grená de Turim. Desde sua fundação, o clube está acostumado a fortes disputas e grandes conquistas. Teve no passado um dos times mais poderosos do mundo e o teve arrancado pelo destino, ferindo eternamente o coração de uma torcida apaixonada. Eles nunca abandonaram o Torino, e hoje o Torino luta por eles, para que os milhões de fãs do Toro possam finalmente voltar a sorrir. 

Nome Completo: Torino Football Club S.p.A
Fundado em: 3 de dezembro de 1906
Federação: Federação Italiana de Futebol (FIGC)
Cidade: Turim-ITA
Estádio: Estádio Olímpico de Turim, capacidade para 27.500 mil pessoas
Site Oficial: www.torinofc.it
Títulos: 7 campeonatos italianos (1927/1928, 1942/1943, 1945/1946, 1946/1947, 1947/1948, 1948/1949 e 1975/1976), 5 Copas Itália (1935/1936, 1942/1943, 1967/1968, 1970/1971 e 1992/1993), e 1 Copa Mitropa (1991) 

CONHEÇA O JOGADOR: Souleymane Coulibaly – O novo Drogba

Sully, como é conhecido, foi um dos artilheiros do último Mundial sub-17
O futebol da Costa do Marfim se orgulha por formar grandes jogadores e por haver se tornado uma das forças do futebol africano nos últimos anos. Mesmo com os insucessos nos mundiais de 2006 e 2010 – nos quais foram eliminados na primeira fase, os torcedores dos “Elefantes” não têm do quê reclamar quando o assunto é atacantes de qualidade. E melhor ainda: goleadores, como os atacantes Didier Drogba do Chelsea e Seydou Doumbia do CSKA (artilheiro da Champions League 2011/12, até o momento com 4 gols), por exemplo. 

Aos 33 anos, Drogba já declara que pretende deixar a seleção em breve. E, para não sentir o peso de uma futura ausência de seu principal artilheiro, surge no país um possível substituto do camisa 11, um jovem com um nome complicado e um futebol de encher os olhos: Souleymane Coulibaly. 

Ainda muito novo, o jovem enfrentou, além da pobreza, as consequências de uma Guerra Civil que assolou o país por cinco anos. Começou a se destacar nos campinhos de futebol na aldeia de Gounioubé, a 20 Km da cidade onde nasceu, Abyián. Aos 14 anos, “Soly” chamava a atenção pelo seu faro de gol e sua inteligência na hora de decidir as jogadas – qualidades que fizeram com que o garoto deixasse o país dos elefantes em 2009 para jogar no Siena da Itália. Pelo time juvenil, Coulibaly marcou 13 gols em 17 partidas, surpreendendo a todos com o seu talento. Tais números credenciaram o jovem a disputar alguns jogos no time júnior conhecido na velha bota como “Primavera”. 

Em 2011 o atacante do Siena teve uma grande oportunidade de mostrar sua qualidade no Mundial da FIFA da categoria Sub-17. Aos 16 anos, Coulibaly chegou ao México como um desconhecido (nem tinha participado do Torneio Africano Sub-17, que classificou os africanos para o mundial). A esperança de gols dos marfinenses estavam nos pés dos jogadores Guy Bedi, Drissa Diarrassouba e Lionel Lago, que estavam em alta. Souleymane nem titular do time era. Felizmente, ele surpreendeu a todos e de forma impressionante.
Logo na estreia do time na competição (contra a Austrália em Guadalajara), Coulibaly começou a partida como titular ao lado de Diarrassouba e Lago. Marcou primeiro gol do jogo e o seu primeiro na competição mas não evitou a derrota de 2x1, de virada, para os “Socceroos”. 

Na segunda partida, contra a Dinamarca, os escandinavos até saíram na frente com Kenneth Zohore, mas Coulibaly resolveu a favor dos marfinenses com 4 gols, virando o jogo em 4x2. Contra a seleção brasileira, mais um show: foram 3 gols, sendo um de bicicleta. No final, o time acabou cedendo o empate em 3x3 com a seleção canarinho. O resultado classificou a Costa do Marfim para a fase seguinte em segundo no Grupo F, atrás da seleção brasileira. 

Nas oitavas-de-final os marfinenses encontraram a França em Querétaro. Coulibaly e Diarrassouba marcaram os gols da Costa do Marfim, abrindo 2x0 no placar, mas os elefantes não resistiram à força francesa e levaram a virada. Derrotados por 3x2, os africanos deram adeus ao torneio. 

Mesmo fora do Mundial, Souleymane Coulibaly foi o nome da competição. Dos 10 gols marcados pela Costa do Marfim, 9 foram dele (igualando a marca obtida pelo francês Florent Sinama-Pongolle, que também marcou 9 gols no Mundial de 2001, disputado em Trinidad e Tobago – batendo o recorde numa competição Sub-17), se tornando o artilheiro do torneio e levando o troféu Chuteira de Ouro. Com a marca obtida no México, Suly garantiu a África como o continente com mais goleadores em mundiais da categoria – 6 contra 5 da Europa. 

As marcas impressionantes de um fenômeno fizeram com que Coulibaly recebesse o apelido de “o novo Drogba” – tanto pelo porte físico quanto pelo faro de gol apuradíssimo, iguais aos do craque do Chelsea. Suly é um jogador não muito habilidoso, que não tem características de um armador. É um centroavante nato, que sabe o que fazer com a bola dentro da grande área, que utiliza a sua força física para se livrar dos zagueiros e fazer o arremate – com os dois pés. 

Com a repercussão em todo o mundo sobre a atuação do jovem no Mundial do México, muitos jornalistas e profissionais do futebol duvidaram que Coulibaly realmente tivesse 16 anos. A suposição tem fundamento pelos históricos de “gatos” no futebol africano: é comum ver jogadores disputando torneios de base com porte atlético e feições de jogadores mais velhos. Nada, porém, que ofuscasse os feitos de Souleymane no território Azteca. Principalmente quando se tratava das propostas de grandes clubes europeus. 

Real Madrid era um dos clubes interessados em contratar “o novo Drogba” – tanto que os espanhóis mandaram um olheiro para Guadalajara especialmente para observar o garoto no desafio contra os brasileiros. E ficaram admirados com o que viram. Com o passe estipulado pelo Siena em € 75 mil, os merengues estavam próximos de um acerto, mas o Tottenham entrou na briga e atravessou o negócio. 

Após o Mundial, estima-se que o clube de Londres tenha contratado o jovem marfinense por € 2,25 milhões (valor não confirmado pelo clube). Coulibaly ainda não estreou no time principal dos Spurs, mas já deixou o seu cartão de visitas. Desde a sua chegada ao White Hart Lane, Suly está entre os atletas da categoria Junior, sempre mantendo sua principal característica: marcando muitos gols – alguns deles marcados no Torneio NextGen (um torneio Sub-19, que conta com grandes clubes europeus), no qual foram 2 gols contra a Inter de Milão e 1 contra o PSV. 

De desconhecido a maior artilheiro do Mundial Sub-17, Coulibaly conquistou o mundo com seus belos gols e com seu estilo de centroavante à moda antiga, aliados à vitalidade de um garoto que sempre brincou com a bola nos campinhos de Abiyán. Se ele realmente é mais um dos jogadores africanos “gatos” ninguém confirma, mas temos certeza que Didier Drogba pode ficar sossegado quando deixar a seleção dos “Elefantes”, pois terá um sucessor à altura. Ele e todo o povo da Costa do Marfim agradecem. 

Ficha Técnica
Nome Completo: Souleymane Coulibaly
Nascido em: 26 de dezembro de 1996 em Abiyán – Costa do Marfim
Posição: Centroavante
Clubes como Jogador: Siena-ITA (2009 a 2011) e Tottenham-ING (à partir de 2011) 

Publicado originalmente publicado no site Trivela em 26 de outubro de 2011: http://trivela.uol.com.br/blog/lado-b/souleymane-coulibaly-o-novo-drogba