domingo, 22 de abril de 2012

CONHEÇA O CLUBE: New York Cosmos – Duas vezes na vida

Chinaglia, Pelé e Beckenbauer nos tempos gloriosos do Cosmos
Imaginem uma seleção mundial na qual atuariam nomes consagrados como os holandeses da famosa “Laranja Mecânica” de 1974 Johan Neeskens e Johan Cruijff, o polonês Wladyslaw Zmuda, o italiano Giorgio Chinaglia, o paraguaio Romerito, o “Kaiser” alemão Franz Beckenbauer e os brasileiros tricampeões mundiais em 1970 no México Carlos Alberto Torres e o Rei Pelé. Imaginaram? Pois é, esse time existiu de fato. O nome: New York Cosmos, clube norte-americano que ganhou destaque nos anos 70 e 80 por montar times recheados de astros mundiais.

O clube nasceu por meio dos irmãos turcos Nesuhi e Ahmet Ertegün, donos da Atlantic Records – fundada por Ahmet em 1947. A gravadora teve grande destaque no cenário musical nos anos 50, quando revelou Ray Charles – que se tornaria um astro, uma lenda do jazz, do soul e do blues. Esmagada pelas mega gravadoras, a Atlantic foi vendida para a Warner Communications (atual Time Warner) em 1967. Amantes do futebol, os irmãos resolveram investir num sonho. Ao lado de Phil Woosnam, ex-jogador galês e presidente da NASL (North-American Soccer League, ou Liga Norte-Americana de Futebol) e do inglês Clive Toye, resolveram buscar parceiros para criar um clube em Nova Iorque. A “nova” liga fundada em 1968 para desbancar a American Soccer League (Liga Americana de Futebol), que não tinha força econômica e perdia clubes de forma surpreendente, já contava com 6 clubes de todo o país (e do Canadá). Só faltava um clube do maior centro econômico do mundo. Então Nesuhi Ertegün, Phil Woosnam e Clive Toye sugeriram ao presidente da Time Warner, Steve Ross, investir no “soccer”, pois acreditavam na viabilidade econômica da nova Liga e também no crescimento do futebol no país. A partir daí, o New York Cosmos nasceu oficialmente no dia 4 de fevereiro de 1971 e ao mesmo tempo já fazia parte da NASL.

O projeto, na verdade, começou em meados de 1970: o clube chamava-se Gotham Football Club e tinha Clive Toye como gerente geral. Os irmãos Ertegün queriam mudar o nome para New York Blues. No entanto, Toye queria criar um nome impactante para o clube, algo que refletisse as possibilidades que ele imaginava para o clube. Ele queria se sentir maior do que o recém-formado time de baseball New York Metropolitans, conhecidos como “Mets”. Toye disse que “Cosmopolitans” era maior do que Metropolitans. Estabelecido este nome, o clube seria coloquialmente chamado de “Cosmos”. E no dia 4 de fevereiro de 1971, foi oficialmente batizado como New York Cosmos. O uniforme também foi sugestão de Toye: as cores iniciais das camisas e calções do time eram verdes – uma homenagem à seleção brasileira que conquistou a todos na Copa do Mundo no México em 1970. Os anos foram passando e as cores do uniforme foram se modificando: de verde para verde e amarelo em 1974; depois para verde e branco; em seguida somente branco (em 1975) e a última mudança foi de branco para azul nos anos 80.

O clube disputou sua primeira partida oficial no dia 17 de abril de 1971, contra o Saint Louis Stars. Vitória do Cosmos por 2x1.

Inicialmente o Cosmos era uma aventura e tinha poucos investimentos. Porém, ao passar dos anos, Steve Ross, empolgado com o projeto, começou a utilizar os recursos da Warner e foi contratando jogadores famosos como Pelé, Beckenbauer, Chinaglia, Carlos Alberto Torres e Cruijff, chegando a formar um grupo de 16 nacionalidades diferentes. O poder econômico do Cosmos começou a refletir dentro de campo, com cinco conquistas nacionais da NASL (em 1972, 1977, 1978, 1980 e 1982) – se tornando a principal equipe e também a mais poderosa dos Estados Unidos. E fora do país, era conhecida como a equipe mais glamourosa do mundo. O Cosmos não era só um time de futebol, fazia parte do showbiz. Graças ao clube nova-iorquino, o “soccer” ganhou tanta popularidade no país que especialistas começaram a dizer que o futebol americano estava passando por uma “morte lenta”. Todas as atenções da mídia estavam voltadas ao futebol – e principalmente ao Cosmos.

A presença de Pelé na liga americana fez com que muitos jogadores famosos europeus e sul-americanos acertassem com outros clubes do país e também com o próprio Cosmos. Tanto que um dos rivais na NASL, o Los Angeles Aztecs contratou o norte-irlandês George Best (ex-Manchester United) e o holandês Johan Cruijff (craque da Copa de 1974 que disputou apenas uma partida pelo Cosmos em 1978).

Pelé chegou ao Cosmos em 1975, depois de atuar por 18 no Santos e marcar 1087 gols. O Rei do Futebol já tinha encerrado a carreira no próprio Santos em 1974, mas uma proposta milionária na época (cerca de US$ 3 milhões em três temporadas) seduziu o Rei de tal maneira que ele partiu para os EUA e voltou a jogar profissionalmente. Nessas três temporadas, Pelé atuou com excelência e maestria em 64 partidas, marcando 37 gols e conquistando o título nacional em 1977. Após a conquista da Liga, Pelé se despediu do futebol no dia 01 de outubro de 1977, num Giants Stadium lotado. O evento foi transmitido para o mundo inteiro e teve as presenças do lutador Muhammad Ali e do ex-capitão da seleção inglesa Bobby Moore. Antes da partida, Pelé se pronunciou aos torcedores, repetindo por três vezes a palavra “love” (amor) e se emocionando com o carinho dos fãs. Jogando contra o Santos, o Rei atuou cada tempo em uma equipe. Marcou o primeiro gol do Cosmos de falta no primeiro tempo. No segundo tempo, já com a camisa do Santos, teve uma participação discreta e o Cosmos venceu a partida por 2x1 – o atacante peruano Ramon Mifflin, que entrou no lugar de Pelé, marcou o segundo do Cosmos e Reinaldo marcou pelo Santos. No final da partida, o Rei deu uma volta olímpica carregando em suas mãos uma bandeirinha do Brasil e outra dos EUA, se despedindo de vez do futebol.

Depois da passagem do Rei pelo Cosmos, o time continuou a encantar o mundo não só com suas estrelas, mas com o futebol bem jogado. Não tinha medo de enfrentar ninguém. Tanto que, em 1979, encarou a Argentina de Maradona que tinha acabado de ganhar a Copa do Mundo em casa no ano anterior. A disputa foi em Nova Iorque e os argentinos venceram a disputa por 1x0, gol de Daniel Passarela.

O time nova-iorquino também já enfrentou clubes brasileiros. Além do Santos, adversário na despedida de Pelé em Nova Iorque (voltariam a se enfrentar em 1979 na Vila Belmiro, com vitória norte-americana por 2x1), o Cosmos jogou também contra o Grêmio em 1981 (vitória gremista por 3x1) e o São Paulo em 1983 (vitória do tricolor por 3x2, com 3 gols de Careca) – todos no Giant Stadium.

Como de início o Cosmos não tinha um estádio próprio, o time jogou em cinco campos diferentes: no Yankee Stadium (do time de baseball New York Yankees), no Hofstra Stadium (da Universidade de Hofstra em Long Island), no Downing Stadium (estádio usado por atletas de atletismo, localizado na Ilha Randall) e no Giant Stadium (do New York Giants, time de futebol americano). Com o passar dos anos, por causa de suas estrelas mundiais, o time se viu obrigado a atuar num estádio com capacidade maior, já que o público que queria ver as partidas só aumentava. Ou seja, a maioria das partidas disputadas pelo Cosmos em sua história foi no estádio dos Giants.

Nos anos 80, já com o alemão Franz Beckenbauer e o holandês Johan Neeskens, mais o paraguaio Romerito, o italiano Giorgio Chinaglia e os brasileiros Rildo e Carlos Alberto, o Cosmos ainda era admirado e idolatrado pelo mundo, mesmo após a aposentadoria de Pelé. Porém, após a passagem do Rei do Futebol, tanto a NASL quanto o próprio clube começaram a entrar em declínio. O clube não tinha um nome forte para desenvolver o crescimento do esporte nos EUA, como ele. A liga começou a perder investidores e principalmente o apoio da TV. Foi estipulado um teto salarial para os clubes e a maioria dos jogadores europeus que tinham ido jogar na América por causa dos altos salários voltou para o velho continente. A média de público também foi caindo. Sem forças para reagir, o Cosmos encerrou suas atividades em 15 de setembro de 1984.

Em 14 anos de história, foram 359 partidas oficiais, com 221 vitórias, 18 empates e 120 derrotas. Marcou 844 gols e sofreu 569.

Consequentemente, a Liga de futebol dos EUA também encerrou as atividades no final do ano. Desde então, não houve nos EUA outra liga profissional de futebol que pudesse substituir a NASL. O futebol lá voltaria a tornar-se um esporte amador. Até que, em 1996, cria-se a Major League Soccer (MLS). Com novos clubes, patrocinados por grandes empresas e, com investimentos altíssimos, o futebol volta ao profissionalismo. E as grandes estrelas começaram a voltar ao país.

As dívidas foram um fator determinante para o fim do Cosmos. Tanto que a Warner teve que vender o clube para pagar as dívidas. Giorgio Chinaglia, atacante que jogou no time entre 1976 a 1983 e foi o maior artilheiro da história do Cosmos com 193 gols em 213 jogos, comprou da Warner a Global Soccer Inc., subsidiária que controlava o Cosmos, em 1984. Tentou reativar o clube com apresentações de showbol, mas não durou muito tempo. Anos depois, Chinaglia vendeu o Cosmos ao seu ex-sócio, o também italiano Giuseppe “Peppe” Pinton que também foi diretor do clube.

Pinton se reservou a guardar a história do Cosmos em seu escritório em Nova Jersey e foi seduzido diversas vezes a vender a marca Cosmos a fãs órfãos desse clube histórico. Tanto que depois de mais de 20 anos de inatividade, ele foi convencido de que tinha de vender os direitos do clube.

Em 2006, Gavin Newsham escreveu o livro chamado “Once in a Lifetime” (Uma vez na vida: A Incrível História do New York Cosmos), contando a história do clube. Baseando-se no livro, a produtora nova-iorquina Miramax produziu o filme com o mesmo nome, trazendo dirigentes e jogadores que passaram pelos 14 anos de história do clube. O filme teve a narração do ator Matt Dillon e foi muito elogiado por público e crítica. Mas não ficaria só nisso. A história do Cosmos teria um segundo capítulo.

Em agosto de 2010, o empresário inglês (e ex-diretor do Tottenham Hotspur da Inglaterra) Paul Kemsley comprou o New York Cosmos de Pinton por um valor não divulgado. Em setembro do mesmo ano, Kemsley nomeou Pelé como presidente de honra do Cosmos. E ao mesmo tempo, o Rei anunciou em coletiva pra a imprensa o renascimento do Cosmos, mas com atividades direcionadas à formação de jogadores.

No dia 19 de janeiro de 2011, o Cosmos começa a sonhar com o retorno ao futebol profissional e contrata o francês Eric Cantona para ser o diretor de futebol. O ex-jogador de Manchester United estará ao lado do Rei e do também ex-jogador norte-americano Cobi Jones. O ex-lateral da seleção americana, que também jogou no Vasco da Gama, será diretor adjunto e embaixador do clube. Os três trabalham juntos para fazer o Cosmos ter um time e incluí-lo na MLS o quanto antes. “Já sonho com uma disputa entre o Cosmos e o New York Red Bulls!”, disse Pelé sobre a possibilidade de o Cosmopolitan encarar o time de Thierry Henry na liga norte-americana. No dia 4 de fevereiro, o clube comemorou o seu 40º aniversário sonhando com o futuro.

Tudo indica que o clube que encantou o mundo, e que ficou conhecido como o segundo clube onde Pelé jogou profissionalmente, vai voltar. Tanto que o site oficial do clube usa vídeos com lances mágicos dos craques que por lá brilharam e assina com a frase “Twice in a lifetime” (Duas vezes na vida). O time que teve a América e o mundo aos seus pés está renascendo. Para aqueles apaixonados por futebol, os mais místicos diriam: “Os deuses do futebol agradecem!” Nós torcedores também.


Nome: New York Cosmopolitan “Cosmos”
Ano de fundação: 4 de fevereiro de 1971
Federação: Liga Norte-Americana de Futebol (MLS – Major League Soccer)
Cidade: Nova Iorque – EUA
Estádio: Giant Stadium, capacidade para 80.200 mil pessoas
Site oficial: www.nycosmos.com
Títulos: 5 campeonatos norte-americanos (1972, 1977, 1978, 1980 e 1982) e 3 Copa Trans-Atlantica (1980, 1983, 1984)

Texto publicado no Trivela dia 16 de março de 2011: http://trivela.uol.com.br/blog/lado-b/new-york-cosmos-duas-vezes-na-vida/

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