sábado, 21 de abril de 2012

CONHEÇA A SELEÇÃO: País de Gales – Os Dragões mansos


Gareth Bale, do Tottenham, é o principal jogador de Gales

O futebol britânico é um dos mais competitivos do mundo. Sim. Mas essa competitividade se reserva somente ao futebol inglês, mais precisamente à liga inglesa. Das seleções britânicas, a seleção do País de Gales seria o patinho feio.

Fundada em 1876, a Associação de Futebol do País de Gales é a terceira federação nacional mais antiga do mundo – atrás de Inglaterra e Escócia, fundadas em 1863 e 1873, respectivamente. Sua primeira partida oficial foi em 25 de março de 1876, em Glasgow, contra a Escócia. Vitória do time da casa por 4x0. Ano seguinte em Wrexham, novo confronto – o primeiro em solo galês. Nova vitória escocesa por 2x0.

Embora os britânicos sejam oficialmente os mais antigos na história do futebol (criado pelos ingleses), eles estabeleciam suas próprias regras nas disputas. Oficializadas em 1880, as regras tinha algumas diferenças em cada país, gerando desentendimentos e muitas discussões. Até que em 6 de dezembro de 1882, na cidade de Manchester, Inglaterra, foi criada a International Football Association Board (Conselho Internacional das Associações de Futebol), mas conhecida como International Board, a fim de estabelecer um conjunto de regras oficiais para o futebol entre as seleções do Reino Unido e consequentemente em todo o mundo. A reunião entre as federações originou a primeira competição internacional, a British Home Championship, torneio entre as seleções do Reino Unido. A disputa caseira entre Inglaterra, Irlanda do Norte, Escócia e País de Gales começou em 1884 e durou uma década. Os ingleses conquistaram 54 vezes o torneio, seguidos por Escócia (41), País de Gales (12) e Irlanda (8).

Em 21 de maio de 1904, foi fundada em Paris a FIFA (do francês Fédération Internationale de Football Association, ou Federação Internacional de Futebol Associado), com intenção de centralizar o comando do futebol, padronizar as regras, criar e organizar competições internacionais (porque na época as grandes disputas entre seleções aconteciam somente nos jogos olímpicos) e aproximar os povos por meio do esporte, então mais popular no mundo.

A partir do mesmo ano, a FIFA, a entidade máxima do futebol se integrou à International Board e passou a seguir as regras ditadas por ela. Hoje, em caso de conselho para mudança nas regras do futebol, a FIFA tem direito a 4 votos e as associações britânicas a um voto cada. Automaticamente, as quatro federações se associaram à FIFA. O País de Gales filiou-se à entidade em 1910.

Mesmo assim, as relações entre a FIFA e os britânicos não eram as melhores. Numa disputa sobre os interesses dos jogadores amadores, as associações britânicas se retiraram da entidade em 1928. Como resultado, as três primeiras edições da Copa do Mundo não contaram com a participação de seleções do Reino Unido.

Em 1932, o País de Gales jogou contra a República da Irlanda, na primeira partida dos Dragões contra uma seleção não britânica. Um ano depois, os galeses foram até a França jogar contra os “Bleus”, na primeira partida fora da Grã-Bretanha. Empate por 1x1.

O País de Gales, assim como os outros três países do Reino Unido, voltaram a se filiar à FIFA em 1946, assim participando das fases de qualificação da Copa do Mundo de 1950, que seria disputada no Brasil. Usaram a British Home Championship como qualificação para o mundial. Inglaterra e Escócia foram os primeiros colocados e vieram para o Brasil. A seleção galesa foi a última colocada.

A primeira participação da seleção galesa numa Copa do Mundo foi em 1958, na Suécia. Depois de disputar a fase classificatória e terminar em segundo (atrás da Tchecoslováquia), sendo automaticamente eliminada, surgiu um fato inesperado: a seleção israelense aguardava o adversário do continente africano para definir a última vaga do mundial (essa equipe seria o Sudão). Só que não contava com a desistência do oponente. Israel se classificaria automaticamente, sem disputar um jogo – fato que a FIFA não permitiu, decidindo assim fazer um sorteio entre as seleções europeias que terminaram as eliminatórias em segundo lugar em seus grupos. Nesse sorteio, os belgas foram escolhidos, mas recusaram. Num novo sorteio, Gales foi apontado como o adversário dos israelenses.

Duas vitórias por 2x0 e os Dragões se classificaram para sua primeira Copa do Mundo. Curiosamente, o mundial de 1958 foi o único que contou com as quatro seleções do Reino Unido.

Na Suécia, os galeses tinham um time que foi considerado um dos melhores da história do futebol do país, com estrelas como John Charles, Ivor Allchurch, Sherwood Alf e Kelsey Jack. Terminou a primeira fase em segundo lugar no grupo 3 – atrás dos donos da casa. Foram três empates com Hungria (1x1), México (1x1) e Suécia (0x0). Os Dragões ficaram empatados em pontos com a Hungria. No jogo de desempate, vitória galesa por 2x1 e eliminação dos vice-campeões mundiais.

Das quatro equipes do Reino Unido, Irlanda e Gales permaneceram na competição. Inglaterra e Escócia, poderosas perto das outras duas, foram eliminadas logo na primeira fase.

Na fase seguinte, o confronto seria contra o Brasil, primeiro colocado do Grupo 4, em Gotemburgo. Um jogo dificílimo. A seleção brasileira pressionou muito, mas a muralha galesa atendia pelo nome de Kelsey Jack. O goleiro fez 20 defesas na partida – contra 3 de Gilmar. O atacante Ivor Allchurch chegou a assustar os brasileiros com uma bola na trave. O Brasil teve um gol anulado: uma linda bicicleta do atacante Mazzola (que atuava como titular na vaga de Vavá que estava machucado). Os Dragões resistiram bravamente aos avanços brasileiros até os treze minutos do 2º tempo, quando um certo garoto chamado Pelé fez um gol antológico, após uma jogada entre Didi e Zagalo. Era o primeiro gol dele numa Copa do Mundo e também o fim do sonho galês.

A bela campanha do time no mundial da Suécia não foi o diferencial para o desenvolvimento do futebol no país. Depois de terminar a competição em quinto lugar, a seleção galesa não disputou mais nenhuma edição de uma Copa do Mundo. No velho continente, os Dragões nunca disputaram uma fase final da Eurocopa. A melhor colocação da seleção galesa nessa competição foi na fase qualificatória para o torneio na Iugoslávia em 1976. O time conseguiu se classificar em primeiro num grupo que trazia Hungria, Áustria e Luxemburgo. Mas foi eliminado nas quartas-de-final pelo time da casa, numa derrota por 2x1 em Zagreb e um empate por 1x1 em casa.

Mesmo fora das grandes competições, os Dragões quebravam tabus. Em 1977, Gales derrotou a Inglaterra em pleno estádio de Wembley por 1x0, numa cobrança de pênalti convertida por James Leighton. Foi a primeira vitória em solo inglês em 42 anos. Outro feito em 1980, em Wrexham: vitória galesa sobre os ingleses novamente, só que de goleada – o placar de 4x1 foi uma das melhores performances da seleção galesa sobre os criadores do futebol.

Os Dragões tiveram destaque no cenário mundial novamente nas eliminatórias para a Copa de 1982 na Espanha, mas uma derrota de 3x0 para a União Soviética eliminou as chances de classificação dos galeses para o mundial. Os soviéticos levaram o primeiro lugar, seguidos pela seleção da Tchecoslováquia.

Nas eliminatórias para o mundial da África em 2010, os Dragões tiveram um início promissor, mas não passaram da 4ª colocação – atrás de Alemanha, Rússia e Finlândia. A seleção alemã foi à única que conseguiu se qualificar para a disputa da Copa.

Com a extinção da British Home Championship (o torneio entre as seleções britânicas), em 1984, no qual conquistaram 12 taças, os únicos triunfos galeses no futebol foram às medalhas de ouro nas Olimpíadas de 1908 e 1912, disputando como Grã Bretanha. Com atuações sem destaques no cenário mundial, a seleção do País de Gales não formou mais times de expressão, revelando poucos jogadores de qualidade.

O futebol no país não possui uma liga forte. Fundada em 1992, o início das disputas pela Liga Galesa foi bastante desorganizado. Tanto que três clubes do país foram jogar no futebol inglês, nas divisões inferiores. O Cardiff City joga na segunda divisão, o Swansea City disputa na terceira e o Wexham na quarta divisão. Sem essas três equipes, os clubes de destaque são o Barry Town, com sete conquistas, e o The New Saints, com cinco taças do campeonato do País de Gales – sendo a última conquista na temporada de 2009.

Sem força no futebol internacional após o Mundial da Suécia em 1958, o futebol galês revelou para o futebol nomes como Mark Hughes, Nathan Blake, Robbie Savage, Ryan Giggs, Craig Bellamy e Gareth Bale.

Atualmente, a seleção galesa trabalha para se qualificar para a Eurocopa de 2012, que será disputada na Polônia e na Ucrânia. A campanha do time é preocupante: em três jogos, foram três derrotas. Revés contra Montenegro (1x0), Bulgária (0x1) e Suíça (4x1). Além dessa campanha pífia nas eliminatórias da Euro 2012, classificado em último na tabela, o time sofre com a falta de talentos. O destaque do time vermelho na competição é o ala esquerdo Gareth Bale do Tottenham. O jovem jogador é uma grata revelação do futebol do País de Gales. O craque do Spurs marcou o único gol da seleção galesa no torneio. Revelado no Southampton aos 16 anos, tornou-se o segundo jogador mais jovem a atuar na Liga Inglesa. Hoje, o jovem craque atua como meia-esquerda e tem tido ótimas atuações no setor onde brilhava o meia do Manchester United, o “interminável” Ryan Giggs. Aliás, o ex-capitão do time, Gary Speed, novo técnico dos Dragões, o convidou para auxiliá-lo no comando do selecionado galês. Para recuperar o time na competição e buscar uma inédita classificação no maior torneio de seleções da Europa, toda a ajuda é bem vinda. No caso do País de Gales, é mais do que necessária.


Ficha Técnica:
Nome: The Football Association of Wales (Associação de Futebol do País de Gales).
Fundado em 1876
Página Oficial: www.faw.org.uk
Estádio Oficial: Millenium em Cardiff, capacidade para: 74.500 mil pessoas.
Participações em Copas do Mundo: 1 participação em 1958
Posição do Ranking FIFA: 112ª (até dezembro 2010)

Texto publicado no Trivela em 23 de dezembro de 2010: http://trivela.uol.com.br/blog/lado-b/pais-de-gales-os-dragoes-mansos/

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