domingo, 29 de abril de 2012

OPINIÃO: Pep, o grande!

Josep Guardiola foi um volante de muita qualidade. Tinha uma categoria rara em jogadores da posição. Jogava tanto no setor defensivo, quanto no ofensivo. Revelado no Centro de Treinamentos de La Masia, subiu para os profissionais do Barça em 1992, numa partida do campeonato Espanhol, substituindo o suspenso Guillermo Amor. Desde então não saiu mais do time. No mesmo ano foi campeão europeu pelo Barcelona derrotando a Sampdoria, em Wembley por 1x0. Naquela época o time já era imbatível. Contava com nomes de respeito como o goleiro espanhol Andoni Zubizarreta, o zagueiro holandês Ronald Koeman, o meia dinamarquês Michael Laudrup, o atacante búlgaro Hristo Stoichkov e comandado pelo técnico holandês Johan Cruyff. Foi capitão, líder, maestro do time blaugraná por 17 anos.

Pela seleção espanhola, Guardiola conquistou em casa a medalha de ouro com o time sub-23. Atuando pelo time principal, jogou a Copa de 1994 e a Euro de 2000. Deixou os gramados em 2006, após passagens pelo futebol italiano e árabe.

O grande ápice na carreira de "Pep" seria na beira do gramado, quando voltou para La Masia para trabalhar na base do Barça, até ser "promovido" ao grupo principal. Dirigindo um time recheado de estrelas e pratas da casa, ganhou 13 dos 18 títulos que disputou. Revolucionou o modo de atuar nas quatro linhas, tornando o Barcelona um dos times mais fantásticos do século.

Depois de cinco anos extraordinários ensinando o mundo como se joga futebol, Guardiola deixou o comando do Barcelona após duas semanas tenebrosas. Derrota para o maior rival em casa - perdendo a possibilidade de faturar o título espanhol - e eliminação da Liga dos Campeões para o Chelsea. Três jogos sem vitórias.

O motivo da saída de Guardiola não foram por causa das derrotas. As perguntas são diversas. Os motivos não foram bem esclarecidos. O treinador saiu pela porta da frente, considerado como um dos maiores comandantes da história do Barcelona. E o status de  maior técnico do mundo. 

O destino de Pep ninguém sabe. Ele disse que pretende descansar, ficar longe do futebol por um tempo. Há rumores que ele pode ir para o futebol italiano, comandar a seleção inglesa, e acreditem: até dirigir a seleção brasileira. Bom, pelo menos é o que a maioria dos brasileiros querem.

Quem sabe treinando a seleção, ele se tornaria um técnico nota 10?!

Uma coisa é certa: Guardiola não permanecerá fora do futebol por muito tempo, o destino dele é uma incógnita, mas pra onde ele for será vencedor. Afinal, todos o querem e certamente ele quer desafios maiores.

Aos amigos que não tiveram a oportunidade de vê-lo jogar. Aproveite e assista este video. Vale a pena. Jogava muito!



sexta-feira, 27 de abril de 2012

CONHEÇA O CLUBE: Nottingham Forest – Em busca das glórias perdidas


O Nottingham Forest foi bicampeão europeu derrotando
gigantes como Liverpool e Real Madrid

Nas décadas de 70, 80 e 90, os clubes de futebol que mais se destacaram na terra da Rainha foram o Arsenal e o Liverpool – principalmente o time da terra dos Beatles, campeão europeu em 1977 e 1978 e líder dos principais torneios da Inglaterra. Mas um modesto time do leste do país entraria para a história com um jogo eficiente e com muitos títulos.

Criado em 1865 por um grupo de pessoas que praticava o shinney – um jogo muito popular no país, semelhante ao hockey, o qual é jogado sobre o gelo ou na rua, totalmente diferente do convencional. Nessa época, o futebol começou a surgir com força na Inglaterra – e os responsáveis pelo clube decidiram trocar o shinney pelo futebol. Os jogadores aprovaram a ideia, e no dia 22 de março de 1866 foi disputada a sua primeira partida oficial, contra o Notts County – clube de Nottingham fundado em 1862, conhecido atualmente como o clube de futebol mais antigo do mundo. Foi o primeiro 0x0 da história do Forest, que adotou a cor vermelha em seu uniforme oficial como homenagem a Giuseppe Garibaldi, patriota italiano que usava o vermelho em suas expedições. O Nottingham Forest era o único clube da Inglaterra a utilizar oficialmente a cor vermelha – a mesma cor que foi sendo usada por outros clubes com o passar dos anos (tanto que o Arsenal, logo após sua fundação em 1886, usava as cores vermelhas em seu uniforme oficial por haver recebido um jogo de camisas doado pelo Forest).

Após um breve período de transição, a criação de uma nova comissão para a prática do shinney foi descartada e surge o nome oficial do clube: Nottingham Forest Football Club.

Após o ano inaugural e de disputar muitos amistosos, os Reds (como o clube também é conhecido) solicitaram formalmente, com o vizinho Notts County, o ingresso na Football League (Liga de Futebol) em 1888. Rejeitado pela principal liga do país, o Forest ingressou na Football Alliance (Aliança de Futebol) – uma espécie de liga paralela, concorrente à Football League, a qual durou três temporadas (de 1889 a 1892). Com um time forte na época, o Nottingham Forest conquistou o título na última temporada da Football Alliance em 1892 (neste mesmo ano, a Football Alliance fundiu-se com a Football League, dividindo-as em primeira (com os principais clubes do país) e segunda divisões.

Após seu primeiro título da história e jogando na divisão principal do país, o Forest continuou buscando o crescimento no futebol inglês, com novas conquistas. Logo veio um triunfo importantíssimo: em 1898, os Reds chegariam à final da Copa da Inglaterra contra o Derby County – que se tornaria seu maior rival – no Estádio Crystal Palace, em Londres. Vitória de 3x1 e o primeiro titulo importante na galeria de troféus do Nottingham Forest. Agora eles eram conhecidos.

Após o triunfo no maior e mais antigo torneio de clubes da Inglaterra, o Forest queria mais. Uma casa nova. Depois de jogar no Castle Ground e em seis outros campos diferentes – entre eles até mesmo o Hipódromo da cidade –, o Nottingham Forest mudou-se em definitivo para o um terreno próximo ao Rio Trent em West Bridgford, no subúrbio da cidade de Nottingham, em 3 de setembro de 1898. Esse terreno foi chamado de The City Ground e o clube fez até uma campanha para angariar fundos junto a membros, simpatizantes e empresários para realizar a construção do estádio. Com tantas ambições e

dificuldades, foram surgindo os insucessos. No início do século XX, o Forest foi rebaixado à segunda divisão, e junto com a queda na Liga, veio uma série de problemas financeiros. Na temporada de 1913-14, o Forest terminou em último no campeonato da segunda divisão – a pior participação do clube num torneio desde a sua fundação. No ano seguinte, a crise se aprofundou e o Forest decretou falência – representantes do clube comunicaram à Liga que não tinham condições financeiras para pagar suas contas. Para se manterem vivos, membros da comissão tinham que bancar os custos do clube. Os contratos dos jogadores foram cancelados e atletas amadores da cidade foram trazidos ao time. Sorte para o Forest que a Liga foi suspensa por causa dos conflitos da I Guerra Mundial (1912-1918). Com campeonato nacional paralisado, os clubes foram disputar torneios regionais. Multidões de fãs atuaram pelo Nottingham Forest, que continuou a disputar as divisões inferiores no recomeço da Liga em 1919 até uma nova paralisação em 1939, em decorrência da II Guerra Mundial (1939-1945).

Com o início do campeonato no pós-guerra, a multidão continuava a apoiar o time e a esperança de dias melhores aumentava. Mas os esforços deles não foram suficientes e o Forest foi rebaixado para a terceira divisão no fim da temporada – o mais baixo escalão a que o clube chegaria em sua história. Mas esse período teve vida curta: em 1952, os Reds retornariam à segunda divisão depois de conquistar o título da terceirona no ano anterior. Na temporada de 1956/57, depois de meio século nas divisões inferiores, o Nottingham Forest se torna campeão da segunda divisão e consegue finalmente retornar à divisão principal da Liga. Entretanto, o retorno do Forest ao cenário nacional não ficaria só por aí.

Em 1959, os Reds voltariam a disputar uma final da Copa da Inglaterra – desta vez em Wembley. Com 100 mil pessoas presentes na final contra o Luton Town, o Forest começou de forma avassaladora o caminho para mais uma conquista. Aos 6 minutos, Roy Dwight (tio da lenda pop Elton John) marcou após um cruzamento da direita. Cinco minutos depois, o Forest faria 2x0 com Tommy Wilson, de cabeça. O resultado da partida indicava que a disputa seria tranquila até o fim, quando, aos 33 minutos, após uma dividida com o zagueiro McNally, Roy Dwight fraturou a perna direita. Como na época não eram permitidas substituições, o Nottingham Forest jogou o restante da partida com 10 jogadores. O Luton Town tentou impor uma pressão no segundo tempo – chegou até a marcar aos 17 minutos com David Pacey –, mas o Forest aguentou bravamente a pressão do adversário para poder erguer sua segunda Copa da Inglaterra. Com essa conquista, o Nottingham Forest se tornou o principal clube da cidade, superando o co-irmão Notts County.

No retorno para casa, os Reds foram recepcionados por milhares de torcedores. Com esse triunfo, os jogos do Forest no City Ground atingiam uma média de 40 mil pessoas por partida. Na temporada de 1966/67 – um ano após seu centenário – os vermelhos de Nottingham foram vice-campeões ingleses, um feito inédito na história do clube que só havia conquistado títulos nas divisões inferiores. Mas o sucesso repentino não evitou um novo rebaixamento em 1972.

Mesmo sendo considerado um clube médio na Inglaterra, o Nottingham Forest seria conhecido pelo mundo a partir de 1975, quando um homem chegaria para mudar a história do clube.

Brian Clough, treinador inglês que tinha se destacado no Derby County com o título da Copa da Liga em 1972, chegou ao City Ground em 6 de janeiro de 1975. Ele e o auxiliar

Peter Taylor tinham a missão de levar o Forest de volta à divisão principal. A promoção veio na temporada 1976/77 com outros bons resultados, como a eliminação do Tottenham Hotspur na terceira fase da Copa da Inglaterra em Londres, com uma vitória de 1x0 – gol do atacante escocês Neil Martin.

De 26 de novembro de 1977 a 25 de novembro de 1978, o Forest teve uma invencibilidade que durou 42 jogos – recorde que só foi superado pelo Arsenal em 2004 (26 anos depois), com uma sequência de 49 jogos sem perder.

Em 1977, Clough demonstraria sua capacidade ao país, levando o Forest a dois títulos na Inglaterra: a Copa da Liga (derrotando o poderoso time do Liverpool em duas partidas) e a Premier League. Em 1978, viria a segunda conquista da Copa da Liga contra o Southampton (placar de 3x2) e a Supercopa da Inglaterra (FA Charity Shield), com uma goleada de 5x0 no Ipswich Town. Mas um outro torneio estava em seus planos: a Liga dos Campeões da Europa (na época chamada de Copa dos Campeões Europeus). A estreia do Forest no principal torneio de clubes da Europa serviu de teste para as pretensões do time na competição. Na primeira fase, o adversário era o então bicampeão Liverpool – com seus craques e um futebol brilhante. Mas o Forest tinha seus trunfos; um deles era o goleiro Peter Shilton.

Ao lado de Shilton (que é o jogador que mais disputou partidas pela seleção inglesa, com 125 aparições), o time tinha o lateral Viv Anderson (o primeiro jogador negro a vestir a camisa da Inglaterra), o meia norte-irlandês Martin O'Neill, os atacantes ingleses Trevor Francis e Garry Birties, e os meias escoceses John Robertson, Archie Gemmill e o zagueiro escocês Kenny Burns.

O primeiro jogo foi disputado no City Ground. Mesmo debutando no maior torneio de clubes da Europa, o Forest não se intimidou diante do experiente gigante de Liverpool e abriu o placar aos 26 minutos com o atacante Garry Birtles. Na etapa complementar, o Liverpool voltou a campo determinado a empatar a disputa, mas as melhores chances pararam nas mãos de Shilton. Para piorar a situação do Liverpool, o Forest marcou o segundo gol aos 42 minutos com Colin Barrett, dando uma larga vantagem para o jogo de volta. Já em Anfield, o Liverpool estava disposto a mostrar sua força e atacou o Forest desde o início, mas foi incapaz de superar a defesa bem armada por Clough – e os Reds de Liverpool deram adeus à luta pelo tricampeonato com o placar de 0x0.

Após eliminar o então campeão, o Forest enfrentou o AEK Atenas da Grécia na segunda fase (vitória do Forest 2x1 em Atenas e 5x1 em Nottingham), o Grasshoppers da Suíça nas quartas de final (4x1 em Nottingham e 1x1 em Zurique) e o Colônia da Alemanha na semifinal (3x3 em Nottingham e 1x0 em Colônia). Até a final, o Nottingham Forest havia vencido todos os jogos, marcando 18 gols e sofrendo 7.

Para a grande final em Munique, o Forest encontraria o Malmö da Suécia, o qual havia passado pelos ucranianos do Dínamo de Kiev, os poloneses do Wisla Cracóvia e os austríacos do Áustria Viena.

A final disputada no Estádio Olímpico de Munique não teve boa presença de público porque a decisão não seria disputada por nenhuma das principais equipes da Europa. De qualquer modo, o Forest tinha um bom número de torcedores nas arquibancadas. Em campo, o Malmö usava a estratégia de segurar os ingleses – já que contava com o

afastamento de seis titulares por lesão. Mas os suecos aguentaram a pressão por 45 minutos – até Trevor Francis marcar de cabeça após o cruzamento de John Robertson. No segundo tempo, o Malmö não esboçou nenhuma reação, só evitava tomar mais gols. E a partida terminou com a vitória do Nottingham Forest por 1x0 e uma conquista jamais imaginada por seus torcedores. O Forest era apresentado ao mundo.

Com o título europeu, o Forest teria direito de disputar o campeonato mundial contra o campeão da Taça Libertadores da América. Entretanto, por falta de datas no calendário do time, os Reds desistiram de disputar o Mundial com o Olímpia do Paraguai. Coube ao vice-campeão europeu Malmö enfrentar os paraguaios em dois jogos, com derrota na Suécia por 1x0 e nova derrota no Paraguai por 2x1 – e mais um vice para os suecos.

Os Reds também disputariam, em 1979, a Supercopa Europeia – torneio organizado pela UEFA que reúne o campeão da Copa dos Campeões da Europa e o da Copa da UEFA. O adversário seria o Barcelona da Espanha. Em duas partidas, uma vitória do Forest (1x0 no City Ground) e um empate (1x1 no Camp Nou) – e mais uma taça em sua galeria.

Na temporada seguinte, o Forest já ingressava ao campeonato europeu com moral por ser o então campeão. Mas com um pensamento pra lá de conservador: “Conquistar a primeira taça foi além dos sonhos dos torcedores mais loucos. Conquistar a segunda era pura fantasia”.

Mas a fantasia se tornaria real depois de passar por Oster da Suécia na primeira fase, Arges Pitesti da Romênia na segunda fase, Dynamo Berlim da Alemanha nas quartas de final e Ajax da Holanda na semifinal. Derrotou nada menos do que o Real Madrid na semifinal com uma implacável goleada por 5x1. O jogo no estádio Santiago Bernabeu, em Madri, reservava fortes emoções para o Forest, pois tratava-se de um jogo mais complicado que a final de Munique contra o Malmö. Mas o time de Brian Clough estava preparado para encarar situações complicadas – e contra times de altíssima qualidade. Na final, enfrentaria outro alemão: o Hamburgo de Felix Magath e Kevin Keegan.

Os Reds jogaram de igual pra igual contra o campeão alemão e aos 21 minutos John Robertson marcou o gol do título. O fortíssimo time do Hamburgo tentou de todas as formas chegar ao empate, mas o goleiro Peter Shilton segurou o resultado com grandes defesas – garantindo ao Nottingham Forest, um modesto clube da Inglaterra, chegar ao bicampeonato europeu em sua segunda participação no torneio, com aproveitamento de 100% nas finais (marca nunca atingida por outro clube). Foi a consagração do clube e de Brian Clough.

Só faltava faturar o Mundial Interclubes, que a partir daquele ano (1980) seria disputado em um jogo único no Japão. O Forest disputou o título contra o Nacional do Uruguai, campeão da América daquele ano. Mas os uruguaios trataram de apresentar seu cartão de visitas aos 10 minutos de jogo com Victorino, vencendo a decisão por 1x0 e faturando seu segundo título mundial (o primeiro havia sido em 1971).

O Forest também não teve sucesso na decisão da Supercopa Europeia contra o Valência da Espanha: vitória por 2x1 no City Ground e derrota em Valência por 1x0. No resultado agregado, terminou 2x2, mas espanhóis levaram a taça pelo gol qualificado, ou seja, por marcar um gol fora de casa.

O ano de 1980 também foi marcado pelo fim da parceria de Peter Taylor com Brian Clough. O auxiliar deixou o clube para seguir a carreira de treinador.

Na temporada de 1980/81, o Nottingham disputaria sua terceira Copa dos Campeões da Europa. Na busca pelo tricampeonato, o time nem teve chance de lutar contra os gigantes, pois foi eliminado na primeira fase pelo CSKA Sofia da Bulgária, com duas derrotas por 1x0. Seria a última aparição do Forest na competição.

Em 1983, o Nottingham disputou a Copa da UEFA. Chegou até as semifinais, quando foi eliminado pelo Anderlecht da Bélgica em circunstâncias bem duvidosas: um pênalti polêmico marcado a favor dos belgas eliminou o Forest. Após o confronto, foi provado que o árbitro da partida havia sido subornado pelo Anderlecht com a quantia de £ 27 mil – mas a UEFA não puniu ninguém, pois o árbitro em questão acabou morrendo num acidente automobilístico.

Os títulos estiveram distantes por algum tempo. Em 1989, o Forest voltaria a figurar o cenário nacional com mais um título da Copa da Liga (vitória de 3x1 contra o Luton Town) e uma disputa ponto a ponto no campeonato inglês. Derrotado por Arsenal e Liverpool, o Forest terminou em terceiro lugar. Mas uma partida contra o Liverpool na semifinal da Copa da Inglaterra foi marcante para todos os torcedores ingleses. Não pelos belíssimos gols e jogadas de efeito, mas por uma tragédia nas arquibancadas.

O jogo foi disputado no Estádio de Hillsborough, do Sheffield Wednesday, no dia 15 de abril de 1989. Os torcedores do Liverpool, maioria, ingressaram no estádio desordenadamente. Como muitos deles ainda estavam do lado de fora, foram entrando de maneira desenfreada, esmagando os que já acompanhavam o início de partida e derrubando o alambrado que separava as arquibancadas do campo. Informado por um policial que invadiu o gramado, o árbitro paralisou o jogo aos 6 minutos. O tumulto formado pelos torcedores do Liverpool resultou em consequências trágicas. Muitos conseguiram entrar no campo para se salvarem; alguns foram puxados para as arquibancadas superiores; outros pularam os alambrados. A avalanche de pessoas resultou em 96 mortes – 94 só naquele dia.

O jogo foi adiado por falta de segurança. Marcado para o dia 07 de maio em Manchester, o Forest não resistiu à força do Liverpool e foi derrotado por 3x1. Depois do desastre em Hillsborough, a Federação Inglesa tomou medidas drásticas para banir os hooligans (antes dessa tragédia, os torcedores do Liverpool haviam causado a morte de 38 torcedores da Juventus no estádio de Heysel na Bélgica, durante a final da Copa dos Campeões de 1985, a qual ficou conhecida como a Tragédia de Heysel). Os estádios ingleses tiveram que ser remodelados, com assentos numerados e sem alambrados. Os torcedores problemáticos seriam punidos com prisão e até proibição de assistir uma partida num estádio.

Brian Clough e seus comandados levariam mais um título em 1990, sua quarta Copa da Liga Inglesa, depois de vencer o Oldham Athletic em Wembley. Seria a última conquista importante de Clough. Em 1991, chegaram a outra final da Copa da Inglaterra contra o Tottenham, mas foram derrotados pelos Spurs (de virada) por 2x1, na prorrogação, com um gol contra do zagueiro norte-americano Des Walker. Em 1992, disputaram mais uma final da Copa da Liga e foi derrotados novamente – desta vez para o Manchester United, por 1x0.

Depois de uma campanha fraquíssima na temporada 1992/93, não houve como evitar um novo rebaixamento do Nottingham Forest – após de 16 anos na divisão principal do futebol inglês. As crises financeiras voltaram a assolar o clube, tanto que foi preciso vender talentos como o inglês Teddy Sheringham, o norte-americano Des Walker e o irlandês Roy Keane.

Com o rebaixamento e por alguns problemas internos (inclusive acusações de favorecimento com transferências de jogadores), a parceria vitoriosa de Clough com o Forest encerraria em 1993, depois de 18 anos e nove títulos. O maior ídolo do clube abandonou a carreira de treinador para seguir um tratamento contra o alcoolismo. Ele também foi gerente de futebol no Wolverhampton em 1995. Brian Clough morreu em Derby City, em 20 de setembro de 2004, aos 69 anos, em consequência de um câncer no estômago.

Com a saída de Clough e na segunda divisão, o novo treinador seria o ex-lateral campeão europeu em 1979, Frank Clark. Sem seus principais jogadores, vendidos a clubes de ponta da Inglaterra, o Forest tratou de se reestruturar. A campanha foi satisfatória, promovendo os Reds de volta à primeira divisão.

Na temporada de 1995/96, depois de terminar a temporada anterior da Premier League em terceiro na tabela, o clube voltou a disputar uma competição europeia após 15 anos. Na Copa da UEFA, o Forest chegou até as quartas de final, onde foi eliminado pelo Bayern de Munique. Pouco depois, a crise voltou ao City Ground. Com um rombo ultrapassando os £ 11 milhões, o clube acabou vendido a um consórcio chamado Grupo Bridgford. Porém, a aquisição não foi tão promissora dentro de campo, com o Forest terminando em último no campeonato e sendo rebaixado novamente.

No mesmo ano de 1996, o Estádio City Ground (conhecido também como Trentside, por ser construído as margens do Rio Trent) com capacidade de 30.576 mil pessoas, foi selecionado pela UEFA, para ser utilizada na primeira fase da Eurocopa de 96, disputada no país. Na casa do Forest, foram realizadas 3 jogos do grupo D (Portugal, Croácia, Dinamarca e Turquia – só a Dinamarca não havia jogado em Nottingham, pois jogou em Sheffield).

A permanência na segunda divisão não durou muito: com uma campanha irretocável, o Nottingham Forest faturou o título e retornou à Premier League. Na temporada 1998/1999, nem o atacante inglês Kevin Campbell e o holandês Pierre Von Hooijdonk evitaram mais um rebaixamento. A partir daí, o Forest não voltou mais. Com uma série de problemas internos, financeiros e, consequentemente, as diversas mudanças no comando do time – incluindo o ex-atacante da seleção inglesa David Platt – o retorno à Premier League estava cada vez distante. Quando o torcedor já imaginava que o clube estaria no fundo do poço por causa das crises técnica e econômica, em 2005 o Forest sofreu um novo rebaixamento – desta vez para a terceira divisão, só voltando à segunda divisão em 2007.

Atualmente, o Nottingham Forest está na segunda divisão do futebol inglês, e há mais de 10 anos não figura entre os gigantes da Inglaterra, sendo o único clube campeão europeu que não disputa a principal divisão de seu país. Mas os Reds buscam dias melhores. Na temporada 2010/11, chegou aos playoffs da Football League Championship (o nome oficial da segunda divisão inglesa) para definir qual clube seria o terceiro colocado e, de quebra ganhar, a promoção à Premier League, mas o Forest sucumbiu diante do Swansea City do País de Gales, o qual venceu a disputa e subiu pela primeira vez para a divisão principal do futebol inglês, junto com o Queens Park Rangers (campeão) e o Norwich City (vice-campeão).

Não foi dessa vez que os torcedores viram o Nottingham Forest, o modesto clube inglês que se tornou gigante no fim dos anos 70, voltar a seu lugar. Mas o trabalho continua no City Ground. Em 2011, o clube contratou o ex-técnico da seleção inglesa Steve McClaren e manteve a base – que contam com o lateral galês Chris Gunter e o atacante Galês Robert Earnshaw – que chegou à sexta colocação na última temporada. Nesse momento, o maior sonho dos torcedores do Forest é ver os Reds de Nottingham encontrarem o caminho das glórias. Pelo menos Brian Clough está lá, imortalizado em estátua, abençoando o clube que luta pra resgatar a sua história vencedora.

Ficha Técnica: Nottingham Forest Football Club
Ano de fundação: 1865
Federação: Football Association - Football League Championship (segunda divisão inglesa)
Cidade: Nottingham – Inglaterra
Estádio: City Ground – capacidade para 30.576 mil pessoas
Site Oficial: www.nottinghamforest.co.uk
Titulos: 2 UEFA Champions League (1979 e 1980), 1 Supercopa Europeia (1979), 1 Campeonato Inglês (1978), 2 Copas da Inglaterra (1898 e 1959), 4 Copas da Liga Inglesa (1978, 1979, 1989 e 1990), 1 Supercopa da Inglaterra (1978), 3 Campeonatos inglês da Segunda Divisão (1907, 1922 e 1998), 1 Campeonato da Terceira Divisão (1951).


CONHEÇA O JOGADOR: Ryo Miyaichi - O prodígio japonês


Ryo Miyaichi atuou no Feyenoord, Arsenal
e atualmente no Bolton

Que o futebol japonês vem crescendo nos últimos anos, todos nós sabemos. O atual campeão da Copa da Ásia teve uma ótima participação no último Mundial, chegando até as oitavas-de-final com gratas revelações individuais como o meia-atacante Keisuke Honda do CSKA da Rússia. Mas existe um outro jogador que promete. Seu nome: Ryo Miyaichi.

Nascido na cidade de Okazaki, na província de Aichi (localizado na ilha principal do Japão, a 310 Km de Tóquio), Nyo é filho de Tatsuya Miyaichi, o qual jogava beisebol profissionalmente no clube da Toyota Motors. Após a carreira profissional, dirigiu o time de Toyota City na mesma província de Aichi. O pequeno Ryo optou por outro esporte e começou a jogar futebol na escola – e, consequentemente, a se destacar.

Na adolescência, Ryo começou a jogar futebol pela equipe do Sylphid FC, na cidade de Nagoya. Mais tarde, aos 16 anos, passou a jogar na Chukyodai Chuyko High School. Em 2008, já integrava as seleções de base do Japão, jogando o Mundial Sub-17 na Nigéria. Em 2010, além de integrar a seleção Sub-20 do Japão, Ryo se destacou no All Japan High School Soccer Tournament, o maior torneio de futebol amador organizado pela Associação Japonesa de Futebol. O Chukyodai não foi bem no torneio, eliminado na primeira fase. Mas o torneio foi importante para o jovem Ryo Miyaichi e sua carreira deu um salto. Tudo porque neste torneio havia um observador mais do que especial: Arsène Wenger, técnico do Arsenal.

Técnico do Nagoya Grampus Eight nos anos de 1995 e 1996, Wenger é idolatrado pelos japoneses. Conhecido como “milagreiro”, ganhou a Copa do Imperador (1995) e a Supercopa Japonesa (1996), ele ficou impressionado com o talento do garoto – dono de uma técnica apurada, toques e dribles rápidos e uma velocidade espetacular (Ryo atingiu neste torneio os incríveis 100 metros em 10,84 segundos, pouco abaixo da marca atingida por um atacante do próprio Arsenal, Theo Walcott, que fez em 10,30 segundos).

Conhecido por ser um visionário no futebol – por preferir trabalhar com jovens talentos para desenvolvê-los, moldá-los no seu estilo de esquema de jogo, a trabalhar com renomados jogadores – Wenger (que já revelou no futebol talentos como o espanhol Césc Fabregas, o holandês Robin Van Persie, o marfinense Koló Touré, o inglês Theo Walcott e o dinamarquês Nicolas Bendtner) viu grande potencial no garoto japonês. Tanto que o “manager” dos Gunners convidou o garoto, então com 17 anos, a fazer alguns testes no clube inglês durante o verão de 2010. Miyaichi atuou na pré-temporada contra o Boreham Madeira e o AFC Wimbledon, agradando ao treinador francês. Sua habilidade também havia chamado a atenção de outros clubes europeus como Milan e Ajax, mas os ingleses chegaram na frente e trataram de contratá-lo.

Ryo assinou seu primeiro contrato profissional com o Arsenal em 31 de janeiro de 2011, aos 18 anos, num compromisso até o ano de 2014. O young gunner nem chegou a entrar em campo pelo clube: para adquirir experiência, foi emprestado para o Feyenoord da Holanda.

Miyaichi estreou profissionalmente no dia 5 de fevereiro de 2011, num empate de 1x1 contra o Vitesse pelo Campeonato Holandês. O time de Roterdã (que é o terceiro maior campeão na Holanda, depois do Ajax e o PSV) estava nas últimas posições, tinha levado uma histórica (e humilhante) goleada de 10x0 do PSV Eindhoven e estava afetado emocionalmente pelas saídas dos ídolos Roy Makaay e Giovanni Van Bronckhorst, que se aposentaram. Ryo chegou como um alento ao time. Até porque em sua segunda partida, diante da torcida, o meia japonês brilhou. Contra o Heracles, Miyaichi marcou o primeiro gol da vitória de 2x1, em uma atuação brilhante.

Depois dessa grande apresentação, Ryo Miyaichi tornou-se novo ídolo da torcida. Tanto que ganhou o apelido de “Ryodinho” – uma referência ao Ronaldo Fenômeno, jogador que se destacou no PSV Eindhoven, também com 18 anos.

Desde que Ryo entrou em campo com a camisa alvi-rubra, o Feyenoord não perdeu mais. Foram 14 pontos conquistados em 18 possíveis, subiu para a 11° posição e deixou de ser ameaçado pelo rebaixamento. A fase do japonês no Feyenoord é tão boa que o técnico do time Mário Been já confia numa campanha melhor na Liga Europa.

Agora os olhos da mídia estarão voltados ao jovem japonês, que ao final da temporada holandesa voltará ao Arsenal. Muitos apostam na convocação de Miyaichi para a seleção principal do Japão nesta Copa América, que será disputada em 2011 na Argentina.
Se vai ser convocado para a seleção principal ainda não sabemos, mas que o garoto tem talento de sobra para confirmar a aposta, isso sabemos muito bem.

Texto publicado no Trivela em 21 de março de 2011: http://trivela.uol.com.br/blog/lado-b/ryo-miyaichi-prodigio-niponico/

domingo, 22 de abril de 2012

CONHEÇA O JOGADOR: Rory Delap – O estilingue humano


A especialidade de Delap: a cobrança de arremesso lateral

Ele poderia ter sido um jogador de futebol americano, mais precisamente um quarterback. Ou um lançador de beisebol. No máximo, poderia ter sido um jogador de rugby. Mas não, ele é um jogador de futebol. Nascido na cidade real Sutton Coldfield, condado de West Midlands (a qual, desde os anos 70, faz parte da cidade de Birmingham, a 200 Km de Londres), Rory Delap se destaca por uma peculiaridade: lançamentos em profundidade, com as mãos.

Inglês de nascimento, Delap naturalizou-se irlandês por intermédio dos pais, que nasceram no país. Aos 6 meses de idade, foi viver na cidade de Carlisle no condado de Cumbria (região noroeste da Inglaterra, a 268 Km de Birmingham e a 16 Km da fronteira com a Escócia), onde se revelou um grande atleta.


Na época de escola, ele já se revelava como lançador de dardos com muito potencial – tanto que se sagrou campeão – mas foi no futebol que Rory se destacou mais.

Ao lado de nomes como Matt Jansen (ex-Blackburn e seleção inglesa Sub-20) e o escocês Lee Peacock (ex-Manchester City), Delap era mais um jogador promissor que se destacava no Brunton Park, casa do Carlisle United. Ele estreou nos Cumbrians em 18 de julho de 1994, aos 18 anos. Em 1997, no estádio de Wembley, conquistou com o Carlisle o título da Football League Trophy (um torneio que credencia ao vencedor a passagem à Football League One, a segunda divisão inglesa) contra o Colchester United, nos penaltis por 4x3 –depois do 0x0 no tempo normal. Nesta partida, merece destaque o goleiro Tony Caig, que fez duas defesas quando o time perdia por 3x1 na disputa.


Em fevereiro de 1998, ano seguinte à conquista do título e à promoção para a segunda divisão do futebol inglês, Delap deixa o Carlisle (onde atuou em 65 jogos, marcando 7 gols) para jogar na Premier League – a primeira divisão inglesa – pelo Derby County por £ 200 mil. Na cidade de Derby, Rory permaneceu até o ano de 2001 atuando em 103 partidas e marcando 11 gols.


Em 2001, foi contratado por £ 4 milhões pelo Southampton, também da primeira divisão da Inglaterra. Foi a maior transferência da história do clube, superando os £ 2 milhões pagos ao Sheffield Wednesday pelo atacante David Hirst em 1997. Os “Santos” venceram uma disputa com o Middlesborough e o Leeds United pelo passe do jogador. Na primeira temporada, Rory e o Southampton não foram tão bem: o insucesso na competição ocasionou o rebaixamento para a segunda divisão. Mas nem só de maus resultados foi marcada a passagem do irlandês no Southampton. Em março de 2004, contra o Tottenham, vitória dos “Santos” por 1x0, num belo voleio de Delap. Outro momento mágico do meia irlandês viria sete meses depois contra o Arsenal no estádio St. Mary: Delap marcou dois gols nos últimos 10 minutos de jogo. O Southampton só não levou os 3 pontos porque o atacante holandês Robin Van Persie empatou para os Gunners no apagar das luzes e o jogo terminou em 2x2.


Depois de mais um rebaixamento do Southampton, o técnico irlandês Mick McCarthy levou Delap para o Sunderland em 2005. Com muitos altos e baixos, inclusive uma contusão séria após uma disputa contra um defensor do Fulham, Rory ficou fora do time durante
boa parte da temporada devido a uma contusão no nariz. Entretanto, teve momentos importantes em partida, como quando, num arremesso de lateral, serviu Peter Crouch e depois marcou um gol no confronto contra o Everton, terminando em empate por 2x2, por exemplo. Esse gol foi o único gol marcado por Delap com a camisa dos “Black Cats”.


No ano seguinte, após amargar um novo rebaixamento e tendo seu compatriota Roy Keane como gerente do Sunderland, Delap foi emprestado ao Stoke City (que disputava a segunda divisão) em outubro de 2006. Sua estréia foi contra o Leeds United no Elland Road, numa surpreendente goleada de 4x0. Sua estréia em casa, porém, não foi tão boa assim. Contra o Sunderland, seu ex-clube, Delap teve a perna quebrada numa dividida com o lateral Robbie Elliott. Uma semana após a assinatura do contrato de empréstimo, o jogador sofrera uma fratura de tíbia e fíbula, afastando-o pelo restante da temporada. Mesmo sem o jogador, o técnico do Stoke Tony Pulis, pediu a sua contratação de forma definitiva. Certamente ele não se decepcionaria, pois o jogador revelaria um talento que ninguém de fato conhecia.


O retorno do jogador foi em 2007, num amistoso de pré-temporada contra o Newcastle. No mesmo ano, Delap e o Stoke chegaram às finais da Football League Championship (segunda divisão) fazendo uma ótima campanha – mas não conseguiram superar o West Bromwich, que conquistaria o título. O Stoke subiu para a primeira divisão como vice-campeão – seguido pelo Hull City, o terceiro colocado.


Na estréia do Stoke no retorno à Premier League, o mundo tomaria conhecimento de duas das armas do time: o primeiro era Britannia Stadium. O segundo, o camisa 24 do time, Rory Delap.


O jogador revelou ao público que a principal jogada do modesto time eram os arremessos de lateral. O Aston Villa foi a primeira vítima. Derrotado por 3x2, o terceiro gol dos “Potters” foi graças ao lançamento do irlandês para o maliano Mamady Sidibe, na pequena área, marcar.

As outras vítimas de Delap seriam Everton, Sunderland, Arsenal, Bolton e Middlesborough, todos no Britannia. Desses 5 adversários, somente o Everton saiu com o empate por 2x2. Os dois gols do Stoke foram de arremessos de Delap na área do goleiro Howard.


Dos 13 gols marcados pelo Stoke City no início da temporada, 7 foram graças ao “Estilingue Humano” – apelido dado a Delap pelo técnico do Everton, o escocês David Moyes, por causa de seus arremessos laterais. No oitavo jogo da temporada, ele marcou um gol na vitória dos Potters sobre o Tottenham por 2x1, em casa.


Em toda a sua carreira, até o dia 19 de fevereiro, foram 39 arremessos de Delap que resultaram-se em gols. Uma média de eficiência impressionante até para técnicos consagrados como Martin O'Neill, Arsène Wenger e Luiz Felipe Scolari.


Delap se tornou mais um jogador de origem britânica no hall de atletas que bateram recordes nos arremessos laterais longos. Nomes como Billy Gunn (jogador de críquete e de futebol em 1882), Ian Hutchinson (Chelsea em 1970), Andy Legg (Swansea City em 1992) e Dave Challinor (Tranmere Rovers em 2000) se destacaram nos seus clubes com arremessos na média dos 40 metros. Conhecido também como “Catapulta”, Rory Delap consegue arremessar a bola da lateral até a pequena área em exatos 38 metros. Ele usa
uma técnica típica de um lançador de dardos – mas usando as duas mãos e a bola no lugar do dardo – usando bem o corpo, os ombros e os braços. O sucesso de Delap nessa jogada é tanto que os torcedores do Stoke o chamam de “Beckham dos arremessos laterais”. A força nos lançamentos é tanta que chega à velocidade de 37 milhas (ou 60 quilômetros) por hora.


Delap foi convocado onze vezes pela seleção irlandesa. Sua estréia foi no dia 25 de março de 1998 num amistoso contra a República Tcheca (derrota por 2x1). Rory disputou dois jogos num torneio oficial: foram ambos confrontos contra a Turquia nas eliminatórias da Eurocopa de 2000, disputados na Holanda e na Bélgica. Jogando pela seleção nestas 11 aparições, foram 3 vitórias, 4 empates e 4 derrotas sem marcar nenhum gol. O meio-campista ficou de fora das disputas da Euro 2000 e do Mundial da Coréia e Japão em 2002.


Delap chamou tanta atenção da mídia que a sua técnica e eficiência inspiraram outras pessoas. Danny Brooks, um professor de educação física de 28 anos, usou uma outra técnica de impulsão. Dando cambalhotas, o professor de West Yorkshire arremessou a bola a 50 metros. Com essa marca, ele detém o recorde no Guinness Book como o maior reposição lateral do mundo.


Fora dos gramados, Delap foi convidado a participar de programas de TV e de eventos de caridade para ajudar hospitais infantis. Devido ao uso dos ombros e músculos lombares ao arremessar a bola, o irlandês também se tornou garoto-propaganda da “Back In Play” - Uma campanha que ajuda a combater a doença Espondilite Anquilosante, uma espécie de inflamação da coluna vertebral e também da pelve. Um outro golaço do “Catapulta Humana”, que, além de bom jogador dentro dos gramados, é um ótimo cidadão fora deles.



Ficha Técnica
Nome completo: Rory John Delap
Nascido em: 6 de julho de 1976 em Birmingham – Inglaterra (naturalizado irlandês)
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Carlisle United-ING (1994-1998), Derby County-ING (1998-2001), Southampton-ING (2001-2006), Sunderland-ING (2006 e 2007), Stoke City-ING (2006 e 2007 em diante).
Títulos: Campeão da terceira divisão inglesa (1997)
Seleção: 11 partidas

CONHEÇA O CLUBE: New York Cosmos – Duas vezes na vida

Chinaglia, Pelé e Beckenbauer nos tempos gloriosos do Cosmos
Imaginem uma seleção mundial na qual atuariam nomes consagrados como os holandeses da famosa “Laranja Mecânica” de 1974 Johan Neeskens e Johan Cruijff, o polonês Wladyslaw Zmuda, o italiano Giorgio Chinaglia, o paraguaio Romerito, o “Kaiser” alemão Franz Beckenbauer e os brasileiros tricampeões mundiais em 1970 no México Carlos Alberto Torres e o Rei Pelé. Imaginaram? Pois é, esse time existiu de fato. O nome: New York Cosmos, clube norte-americano que ganhou destaque nos anos 70 e 80 por montar times recheados de astros mundiais.

O clube nasceu por meio dos irmãos turcos Nesuhi e Ahmet Ertegün, donos da Atlantic Records – fundada por Ahmet em 1947. A gravadora teve grande destaque no cenário musical nos anos 50, quando revelou Ray Charles – que se tornaria um astro, uma lenda do jazz, do soul e do blues. Esmagada pelas mega gravadoras, a Atlantic foi vendida para a Warner Communications (atual Time Warner) em 1967. Amantes do futebol, os irmãos resolveram investir num sonho. Ao lado de Phil Woosnam, ex-jogador galês e presidente da NASL (North-American Soccer League, ou Liga Norte-Americana de Futebol) e do inglês Clive Toye, resolveram buscar parceiros para criar um clube em Nova Iorque. A “nova” liga fundada em 1968 para desbancar a American Soccer League (Liga Americana de Futebol), que não tinha força econômica e perdia clubes de forma surpreendente, já contava com 6 clubes de todo o país (e do Canadá). Só faltava um clube do maior centro econômico do mundo. Então Nesuhi Ertegün, Phil Woosnam e Clive Toye sugeriram ao presidente da Time Warner, Steve Ross, investir no “soccer”, pois acreditavam na viabilidade econômica da nova Liga e também no crescimento do futebol no país. A partir daí, o New York Cosmos nasceu oficialmente no dia 4 de fevereiro de 1971 e ao mesmo tempo já fazia parte da NASL.

O projeto, na verdade, começou em meados de 1970: o clube chamava-se Gotham Football Club e tinha Clive Toye como gerente geral. Os irmãos Ertegün queriam mudar o nome para New York Blues. No entanto, Toye queria criar um nome impactante para o clube, algo que refletisse as possibilidades que ele imaginava para o clube. Ele queria se sentir maior do que o recém-formado time de baseball New York Metropolitans, conhecidos como “Mets”. Toye disse que “Cosmopolitans” era maior do que Metropolitans. Estabelecido este nome, o clube seria coloquialmente chamado de “Cosmos”. E no dia 4 de fevereiro de 1971, foi oficialmente batizado como New York Cosmos. O uniforme também foi sugestão de Toye: as cores iniciais das camisas e calções do time eram verdes – uma homenagem à seleção brasileira que conquistou a todos na Copa do Mundo no México em 1970. Os anos foram passando e as cores do uniforme foram se modificando: de verde para verde e amarelo em 1974; depois para verde e branco; em seguida somente branco (em 1975) e a última mudança foi de branco para azul nos anos 80.

O clube disputou sua primeira partida oficial no dia 17 de abril de 1971, contra o Saint Louis Stars. Vitória do Cosmos por 2x1.

Inicialmente o Cosmos era uma aventura e tinha poucos investimentos. Porém, ao passar dos anos, Steve Ross, empolgado com o projeto, começou a utilizar os recursos da Warner e foi contratando jogadores famosos como Pelé, Beckenbauer, Chinaglia, Carlos Alberto Torres e Cruijff, chegando a formar um grupo de 16 nacionalidades diferentes. O poder econômico do Cosmos começou a refletir dentro de campo, com cinco conquistas nacionais da NASL (em 1972, 1977, 1978, 1980 e 1982) – se tornando a principal equipe e também a mais poderosa dos Estados Unidos. E fora do país, era conhecida como a equipe mais glamourosa do mundo. O Cosmos não era só um time de futebol, fazia parte do showbiz. Graças ao clube nova-iorquino, o “soccer” ganhou tanta popularidade no país que especialistas começaram a dizer que o futebol americano estava passando por uma “morte lenta”. Todas as atenções da mídia estavam voltadas ao futebol – e principalmente ao Cosmos.

A presença de Pelé na liga americana fez com que muitos jogadores famosos europeus e sul-americanos acertassem com outros clubes do país e também com o próprio Cosmos. Tanto que um dos rivais na NASL, o Los Angeles Aztecs contratou o norte-irlandês George Best (ex-Manchester United) e o holandês Johan Cruijff (craque da Copa de 1974 que disputou apenas uma partida pelo Cosmos em 1978).

Pelé chegou ao Cosmos em 1975, depois de atuar por 18 no Santos e marcar 1087 gols. O Rei do Futebol já tinha encerrado a carreira no próprio Santos em 1974, mas uma proposta milionária na época (cerca de US$ 3 milhões em três temporadas) seduziu o Rei de tal maneira que ele partiu para os EUA e voltou a jogar profissionalmente. Nessas três temporadas, Pelé atuou com excelência e maestria em 64 partidas, marcando 37 gols e conquistando o título nacional em 1977. Após a conquista da Liga, Pelé se despediu do futebol no dia 01 de outubro de 1977, num Giants Stadium lotado. O evento foi transmitido para o mundo inteiro e teve as presenças do lutador Muhammad Ali e do ex-capitão da seleção inglesa Bobby Moore. Antes da partida, Pelé se pronunciou aos torcedores, repetindo por três vezes a palavra “love” (amor) e se emocionando com o carinho dos fãs. Jogando contra o Santos, o Rei atuou cada tempo em uma equipe. Marcou o primeiro gol do Cosmos de falta no primeiro tempo. No segundo tempo, já com a camisa do Santos, teve uma participação discreta e o Cosmos venceu a partida por 2x1 – o atacante peruano Ramon Mifflin, que entrou no lugar de Pelé, marcou o segundo do Cosmos e Reinaldo marcou pelo Santos. No final da partida, o Rei deu uma volta olímpica carregando em suas mãos uma bandeirinha do Brasil e outra dos EUA, se despedindo de vez do futebol.

Depois da passagem do Rei pelo Cosmos, o time continuou a encantar o mundo não só com suas estrelas, mas com o futebol bem jogado. Não tinha medo de enfrentar ninguém. Tanto que, em 1979, encarou a Argentina de Maradona que tinha acabado de ganhar a Copa do Mundo em casa no ano anterior. A disputa foi em Nova Iorque e os argentinos venceram a disputa por 1x0, gol de Daniel Passarela.

O time nova-iorquino também já enfrentou clubes brasileiros. Além do Santos, adversário na despedida de Pelé em Nova Iorque (voltariam a se enfrentar em 1979 na Vila Belmiro, com vitória norte-americana por 2x1), o Cosmos jogou também contra o Grêmio em 1981 (vitória gremista por 3x1) e o São Paulo em 1983 (vitória do tricolor por 3x2, com 3 gols de Careca) – todos no Giant Stadium.

Como de início o Cosmos não tinha um estádio próprio, o time jogou em cinco campos diferentes: no Yankee Stadium (do time de baseball New York Yankees), no Hofstra Stadium (da Universidade de Hofstra em Long Island), no Downing Stadium (estádio usado por atletas de atletismo, localizado na Ilha Randall) e no Giant Stadium (do New York Giants, time de futebol americano). Com o passar dos anos, por causa de suas estrelas mundiais, o time se viu obrigado a atuar num estádio com capacidade maior, já que o público que queria ver as partidas só aumentava. Ou seja, a maioria das partidas disputadas pelo Cosmos em sua história foi no estádio dos Giants.

Nos anos 80, já com o alemão Franz Beckenbauer e o holandês Johan Neeskens, mais o paraguaio Romerito, o italiano Giorgio Chinaglia e os brasileiros Rildo e Carlos Alberto, o Cosmos ainda era admirado e idolatrado pelo mundo, mesmo após a aposentadoria de Pelé. Porém, após a passagem do Rei do Futebol, tanto a NASL quanto o próprio clube começaram a entrar em declínio. O clube não tinha um nome forte para desenvolver o crescimento do esporte nos EUA, como ele. A liga começou a perder investidores e principalmente o apoio da TV. Foi estipulado um teto salarial para os clubes e a maioria dos jogadores europeus que tinham ido jogar na América por causa dos altos salários voltou para o velho continente. A média de público também foi caindo. Sem forças para reagir, o Cosmos encerrou suas atividades em 15 de setembro de 1984.

Em 14 anos de história, foram 359 partidas oficiais, com 221 vitórias, 18 empates e 120 derrotas. Marcou 844 gols e sofreu 569.

Consequentemente, a Liga de futebol dos EUA também encerrou as atividades no final do ano. Desde então, não houve nos EUA outra liga profissional de futebol que pudesse substituir a NASL. O futebol lá voltaria a tornar-se um esporte amador. Até que, em 1996, cria-se a Major League Soccer (MLS). Com novos clubes, patrocinados por grandes empresas e, com investimentos altíssimos, o futebol volta ao profissionalismo. E as grandes estrelas começaram a voltar ao país.

As dívidas foram um fator determinante para o fim do Cosmos. Tanto que a Warner teve que vender o clube para pagar as dívidas. Giorgio Chinaglia, atacante que jogou no time entre 1976 a 1983 e foi o maior artilheiro da história do Cosmos com 193 gols em 213 jogos, comprou da Warner a Global Soccer Inc., subsidiária que controlava o Cosmos, em 1984. Tentou reativar o clube com apresentações de showbol, mas não durou muito tempo. Anos depois, Chinaglia vendeu o Cosmos ao seu ex-sócio, o também italiano Giuseppe “Peppe” Pinton que também foi diretor do clube.

Pinton se reservou a guardar a história do Cosmos em seu escritório em Nova Jersey e foi seduzido diversas vezes a vender a marca Cosmos a fãs órfãos desse clube histórico. Tanto que depois de mais de 20 anos de inatividade, ele foi convencido de que tinha de vender os direitos do clube.

Em 2006, Gavin Newsham escreveu o livro chamado “Once in a Lifetime” (Uma vez na vida: A Incrível História do New York Cosmos), contando a história do clube. Baseando-se no livro, a produtora nova-iorquina Miramax produziu o filme com o mesmo nome, trazendo dirigentes e jogadores que passaram pelos 14 anos de história do clube. O filme teve a narração do ator Matt Dillon e foi muito elogiado por público e crítica. Mas não ficaria só nisso. A história do Cosmos teria um segundo capítulo.

Em agosto de 2010, o empresário inglês (e ex-diretor do Tottenham Hotspur da Inglaterra) Paul Kemsley comprou o New York Cosmos de Pinton por um valor não divulgado. Em setembro do mesmo ano, Kemsley nomeou Pelé como presidente de honra do Cosmos. E ao mesmo tempo, o Rei anunciou em coletiva pra a imprensa o renascimento do Cosmos, mas com atividades direcionadas à formação de jogadores.

No dia 19 de janeiro de 2011, o Cosmos começa a sonhar com o retorno ao futebol profissional e contrata o francês Eric Cantona para ser o diretor de futebol. O ex-jogador de Manchester United estará ao lado do Rei e do também ex-jogador norte-americano Cobi Jones. O ex-lateral da seleção americana, que também jogou no Vasco da Gama, será diretor adjunto e embaixador do clube. Os três trabalham juntos para fazer o Cosmos ter um time e incluí-lo na MLS o quanto antes. “Já sonho com uma disputa entre o Cosmos e o New York Red Bulls!”, disse Pelé sobre a possibilidade de o Cosmopolitan encarar o time de Thierry Henry na liga norte-americana. No dia 4 de fevereiro, o clube comemorou o seu 40º aniversário sonhando com o futuro.

Tudo indica que o clube que encantou o mundo, e que ficou conhecido como o segundo clube onde Pelé jogou profissionalmente, vai voltar. Tanto que o site oficial do clube usa vídeos com lances mágicos dos craques que por lá brilharam e assina com a frase “Twice in a lifetime” (Duas vezes na vida). O time que teve a América e o mundo aos seus pés está renascendo. Para aqueles apaixonados por futebol, os mais místicos diriam: “Os deuses do futebol agradecem!” Nós torcedores também.


Nome: New York Cosmopolitan “Cosmos”
Ano de fundação: 4 de fevereiro de 1971
Federação: Liga Norte-Americana de Futebol (MLS – Major League Soccer)
Cidade: Nova Iorque – EUA
Estádio: Giant Stadium, capacidade para 80.200 mil pessoas
Site oficial: www.nycosmos.com
Títulos: 5 campeonatos norte-americanos (1972, 1977, 1978, 1980 e 1982) e 3 Copa Trans-Atlantica (1980, 1983, 1984)

Texto publicado no Trivela dia 16 de março de 2011: http://trivela.uol.com.br/blog/lado-b/new-york-cosmos-duas-vezes-na-vida/

sábado, 21 de abril de 2012

RELEMBRE O JOGADOR: Duncan Edwards – O destino faz uma lenda


Edwards era considerado um craque nos anos 50

Ele era o jogador que fazia me sentir inferior!” Palavras de Bobby Charlton, um dos maiores da história do futebol mundial, para descrever Duncan Edwards, considerado uma das maiores revelações do futebol inglês depois de Stanley Matthews – e antes de Bobby Moore e do próprio Charlton. Talentoso, cerebral, diferenciado, um jogador completo. Duncan Edwards atuava como meia e foi destaque nos anos 50. É um nome admirado até hoje por torcedores de toda a Inglaterra, principalmente os do Manchester United, time no qual atuou em sua curta carreira. Além de brilhar na equipe comandada por Matt Busby, ele também jogou pela seleção do país com grande excelência. Seria um craque (segundo os ingleses, seria melhor que Pelé), se sua carreira não fosse interrompida por uma tragédia. Por causa do destino, ele se tornou uma lenda do futebol.

Edwards foi um meio campista defensivo por característica, mas por muitas vezes jogou como ala, armador, zagueiro e até como atacante – só não jogou como goleiro. Tinha grande capacidade de defender, armar a jogada e voltar pra defesa com velocidade jamais vista. Tinha um notável senso de liderança para um jogador tão jovem. Jogador dinâmico, tanto nas arrancadas como nos fundamentos, usando as duas pernas com passes longos, curtos, cobranças de faltas e escanteios. Outras características de destaque eram a força física e a resistência. Dificilmente perdia numa dividida. Era como se o adversário batesse numa rocha – tanto que foi apelidado de “Big Dunc” e “The Tank” por causa da sua altura (1,80m) e do seu porte físico. Bobby Charlton, seu companheiro de Manchester e de seleção, o comparou ao Rochedo de Gibraltar. Stanley Mathews o descreveu como “uma rocha em um mar revoltado”. Foi considerado, por jornalistas e jogadores da Inglaterra, o jogador mais forte do mundo na época.

Edwards nasceu a 1º de outubro de 1936, em Dudley, uma pequena cidade localizada, na época, no condado de Worcestershire – hoje, parte do condado de West Midlands, próximo a Birmingham e Wolverhampton, oeste da Inglaterra. Foi o mais velho dos dois filhos do casal Gladstone e Anne Edwards, sendo o único a sobreviver até a maioridade (sua irmã mais nova, Carol Anne, morreu logo após o nascimento).

Na escola, já chamava atenção pela sua habilidade com a bola nos pés, tanto que foi convocado para atuar pela English Schools Football Association, em 1950, contra o selecionado do País de Gales no Estádio de Wembley. Edwards atuou por duas temporadas seguidas, como meia e capitão da equipe, e já atraía atenção dos olheiros de grandes clubes do país – especialmente o Manchester United, até então um clube em ascensão. O jovem craque também era disputado por Wolverhampton Wanderers e Aston Villa, clubes de cidades próximas a Dudley (Wolverhampton e Birmingham). Mas o garoto foi seduzido pela proposta do clube de Manchester, no norte da Inglaterra, e preferiu atuar nos United, dizendo que era clube dos seus sonhos, gerando a ira do gerente dos Wolves, o qual acusou o Manchester United de oferecer incentivos financeiros para Edwards e sua família. Com o sinal positivo de Matt Busby, que já havia ouvido falar da jovem promessa em 1948, Duncan Edwards foi contratado pelos Red Devils em 2 de julho de 1952.

Mesmo assim, por garantia, ele estudava carpintaria – para o caso de a carreira no futebol não vingar.

Edwards estreou na equipe principal do Manchester aos 16 anos e 185 dias, em 4 de abril de 1953, contra o Cardiff City, na Primeira Divisão Inglesa. Derrota por 4x1. Mesmo com esse revés, Edwards já entraria para a história como o atleta mais jovem a atuar profissionalmente por uma equipe na divisão principal do futebol inglês até então. Essa marca só foi superada em 13 de maio de 2007 por Matthew Briggs do Fulham que, aos 16 anos e 65 dias, estreou pelos Whites na derrota para o Middlesborough por 3x1, tornando-se o atual recordista.

Em meio a muitos jogadores mais velhos, Edwards encarou com muita naturalidade o desafio. Mesmo assim, Busby acabou promovendo outros jogadores das categorias de base, como Duncan – foi de lá que também vieram Dennis Viollet e Jackie Blanckflower. Com o ingresso destes garotos, eles seriam conhecidos como The Busby Babies (Os Bebês de Busby), já que todos os três tinham menos de 18 anos.

Mesmo jogando pela equipe principal, Edwards atuava também pelo time juvenil na disputa da FA Youth Cup (uma espécie de Copa da Inglaterra Juvenil). O jornal The Guardian o considerava uma boa promessa e sempre dava destaque a suas atuações, passes precisos e arremates. Na temporada 1952/53, o jovem craque ajudou sua equipe a faturar o título da competição.

Na temporada seguinte, Edwards passou a atuar com regularidade no time principal. Depois de substituir o lesionado Henry Cockburn na partida contra o Huddersfield Town, em 31 de outubro de 1953, não saiu mais do time. Foram 24 partidas na Liga Inglesa e uma partida na FA Cup (Copa da Inglaterra) – partida esta na qual Manchester acabou eliminado pelo Burnley. Mesmo com a titularidade na equipe principal, Duncan Edwards continuava a disputar a FA Youth Cup pela equipe juvenil, onde conquistaria mais um título.

O bom desempenho de Edwards nas equipes juvenil e principal chamou a atenção do técnico da seleção inglesa Walter Winterbottom. O jogador foi convocado pela primeira vez para a seleção sub-23 e estreou em 20 de janeiro de 1954 na Itália, contra a Azzurra. Observado pelos olheiros da seleção principal, ele estaria a um passo da convocação, mas no segundo amistoso contra o Arsenal, em Wembley, sua atuação foi fraca e não foi chamado.

Na temporada de 1954/55, marcou seu primeiro gol como profissional. Em 38 atuações no time principal do Manchester na Liga, Edwards marcou seis gols. Com sua evolução dentro de campo, era impossível não ser convocado pela seleção principal. Estreou aos 2 de abril de 1955 na vitória esmagadora de 7x2 contra a Escócia pelo Campeonato Britânico. Tinha 18 anos e 183 dias, e tornava-se o mais jovem estreante da Inglaterra no pós guerra – marca mantida até fevereiro de 1998, quando Michael Owen fez a sua estreia num amistoso contra o Chile (derrota inglesa por 2x0).

Três semanas após sua primeira partida com a camisa do English Team, Edwards foi convocado por Matt Busby para a disputa de mais uma decisão do United na FA Youth Cup. Vitória por 7x1 sobre o West Bromwich – e o terceiro título consecutivo. A decisão do clube em escalar Edwards para a partida foi duramente criticada pela imprensa porque o jogador já fazia parte da seleção principal. As críticas chegaram a Busby e o treinador teve que se retratar nos jornais, comentando sobre a importância do jogador nas conquistas do Manchester.

Em maio de 55, Edwards foi convocado novamente para a seleção em três amistosos: contra França (derrota por 1x0 em Paris), Portugal (derrota por 3x1 na Cidade do Porto) e Espanha (empate de 1x1 em Madri), tendo começado as três partidas como titular. Na volta, ele foi cumprir o serviço obrigatório no Exército Britânico. A seu lado estava seu companheiro de clube, o também jovem Bobby Charlton. Lá, permaneceram por dois anos, mas durante esse tempo puderam atuar pelo Manchester normalmente.

Com os Busby Babies em campo, liderados por Edwards, e um esquema tático inovador, os títulos do Manchester United começaram a surgir. Nas temporadas de 1955/56 e 1956/57, foram duas conquistas no campeonato inglês. Mas na final da Copa da Inglaterra, na temporada 1956/57, derrota para o Aston Villa por 2x1.

A primeira participação do Manchester na Copa dos Campeões foi em 1956 (um ano após sua criação). Edwards participou de sete partidas, incluindo a vitória memorável contra o Anderlecht da Bélgica por 10x0 (considerada até hoje a maior vitória da história do clube). O United chegou até as semifinais, sendo eliminado por nada menos do que o Real Madrid de Di Stefano, que levaria o segundo título do torneio. Derrota por 3x1 em Madrid e um empate no Old Trafford.

Pela seleção, Duncan Edwards participou de todas as quatro partidas das Eliminatórias da Copa de 1958, com dois gols marcados sobre a Dinamarca na vitória por 5x2 em 1956. O jovem já era considerado o principal jogador da equipe e cotado para substituir o veterano Billy Wright como capitão do English Team no Mundial da Suécia.

O ano de 1958 começou com Edwards em boa forma e cobiçado por clubes da Itália. Com 21 anos, já ganhava dinheiro também fora dos gramados sendo garoto propaganda de uma indústria de açúcar. Bom moço, ingênuo, sempre reservado e adepto à pesca e aos jogos de cartas, ele nunca chamava atenção por escândalos e polêmicas. No mesmo ano, casou-se com Molly Leach, uma jovem moça de 20 anos que conheceu num aeroporto em Manchester.

Dentro dos gramados, o jovem craque se destacava tanto com a camisa do Manchester quanto com a da Inglaterra. No dia 1º de fevereiro de 1958, Edwards atuou mais uma vez pela seleção inglesa em Wembley, marcando um gol contra o Arsenal. Mal sabia ele que a vitória por 5x4 contra os Gunners seria a última partida dele pela seleção. Cinco dias depois, o Manchester enfrentaria o Estrela Vermelha em Belgrado pela Copa dos Campeões (empate por 3x3 e classificação para as semifinais), já que a primeira partida os Red Devils venceram por 2x1 em casa.

Na volta da Iugoslávia, o vôo BE609 da British Airways, que transportava a equipe para casa, pousaria em Munique, na Alemanha, para reabastecer. O tempo estava ruim demais para continuar a viagem, pois nevava muito. A aeronave, um Airspeed Ambassador, carregava 44 passageiros, entre jogadores, comissão técnica e jornalistas.

O piloto tenta decolar por duas vezes, mas os motores falham. Na terceira tentativa, por volta das 15 horas, o avião levanta vôo, porém, em seguida, um motor da aeronave pega fogo e ela cai sobre as grades do aeroporto e em uma casa desabitada, desintegrando-se completamente.
Dos 44 passageiros, 21 pessoas morreram instantaneamente – entre elas, sete jogadores do Manchester, três membros da comissão técnica, oito jornalistas e três tripulantes. Outros sete mortos eram moradores que estavam nos arredores da queda.

Duncan Edwards sobrevive à queda, e é levado ao hospital Rechts Der Izar com fraturas múltiplas nas pernas e nas costelas e lesões nos rins. Sua família fica sabendo pelos noticiários sobre a queda, mas ficam aliviados por não verem o nome de Duncan entre os mortos.

Os médicos estavam confiantes pela recuperação de Edwards, mas não podiam garantir que o craque voltaria a jogar futebol. Dois dias após o acidente, Duncan viu um rosto conhecido. Era Jimmy Murphy, assistente de Matt Busby (o qual estava gravemente ferido e chegou a receber a extrema unção por duas vezes, mas sobrevive). O jogador murmurou no ouvido de Murphy que não estava no vôo porque estava à frente da seleção galesa na repescagem para a Copa de 1958 contra Israel no dia do acidente: “Que horas começa o jogo contra os Wolves, Jimmy? Preciso estar pronto!” Tanto Murphy quanto os médicos ficaram espantados com a luta de Edwards para sobreviver. Essa força durou 15 dias. No dia 21 de fevereiro, Duncan Edwards faleceu por insuficiência renal. Das oito vítimas fatais, a dele foi a mais sentida. O craque se tornou uma lenda e o destino o levou.

Duncan Edwards foi enterrado em Dudley, ao lado do túmulo da irmã Carol Anne. Milhares de torcedores e fãs foram às ruas para o seu funeral. Após sua morte, sua família autoriza a publicação do livro de memórias escrito por ele mesmo e chamado “Combater Soccer This Way” (sem tradução para o português).

Em frangalhos, o United voltou a campo no mês seguinte comandado por Murphy na final da Copa da Inglaterra contra o Bolton Wanderers, derrota por 2x0. Na semifinal da Copa dos Campeões, foi eliminado pelo Milan e no Campeonato Inglês terminou na nona colocação.

Em Dudley, foram inúmeras as homenagens a seu filho ilustre: Duncan Edwards virou nome de rua, condomínio e até de um bar. Um vitral com a imagem dele foi inaugurado em 1961 na Igreja de São Francisco com a presença de Matt Busby. Uma estátua do jogador foi posta numa praça no centro da cidade.

O Manchester United construiu um memorial no estádio de Old Trafford homenageando seus 11 profissionais mortos no dia 6 de fevereiro de 1958. Uma placa com os nomes dos jogadores e membros da comissão técnica foi posta ao lado de um relógio congelado às 15:04, horário exato do acidente. No dia 6 de fevereiro de 2008, quando a tragédia de Munique completou 50 anos, foram feitas muitas homenagens aos atletas por toda Manchester e por toda a Inglaterra. No mesmo dia, as duas equipes de Manchester (United e City) se enfrentaram pelo Campeonato inglês. Ambas jogaram caracterizadas com uniformes da época do acidente e fizeram um minuto de silêncio. Os jogadores do United entraram acompanhados de crianças vestindo camisetas com os nomes dos homenageados nas costas. Com a bola rolando, o City roubou a cena ao vencer seu rival por 2x1.

Duncan Edwards continua sendo lembrado até hoje como uma promessa que não chegou a se tornar uma realidade. Com apenas seis anos de carreira, disputou 177 partidas com a camisa do Manchester (entre juvenil e profissional) e marcou 21 gols. Existem poucas imagens dele em ação, mas aqueles que presenciaram o jovem craque em campo dizem que seria o melhor jogador de todos os tempos.

Em 2002, Duncan Edwards foi incluso no Hall da Fama do futebol inglês por seu talento dentro das quatro linhas. Bobby Charlton, companheiro de Manchester e seleção, que sobreviveu ao acidente em Munique disse que a morte de Duncan foi a “maior tragédia que aconteceu ao United e ao futebol inglês”. Terry Venables, técnico da seleção inglesa de 1994 a 1996, afirmou que, se houvesse sobrevivido ao acidente, Edwards teria erguido a Taça do Mundo em 1966 como capitão da Inglaterra, e não Bobby Moore. Já Tommy Docherty, ex técnico de Manchester United, Chelsea e seleção escocesa, foi mais enfático: disse que Edwards seria o melhor jogador de todos os tempos – à frente de Best, Maradona e Pelé. Não só pela habilidade, mas pela capacidade de jogar em todos os lados do campo com maestria.

Elogios não faltam ao ex-camisa 6 do Manchester United e da seleção inglesa. Ele poderia ser o melhor do futebol inglês e até do mundo. Morreu jovem, mas com um talento de gente grande que não tinha limites. Teve uma vida de promessa, por isso que se tornou inesquecível. O mundo do futebol chorou no dia 6 de fevereiro de 1958 e até hoje se rende ao talento de Duncan Edwards – o menino que o destino transformou em lenda, em mito.

Ficha Técnica:
Nome Completo: Duncan Edwards
Nascido em: 1 de outubro de 1936 em Dudley (Inglaterra)
Falecido em: 21 de fevereiro de 1958 em Munique (Alemanha)
Site Oficial: www.duncan-edwards.co.uk
Posição: Meia
Clubes: Manchester United-ING (1952-1958)
Títulos: FA Youth Cup (1953/54/55) e Campeão Inglês (1956 e 1957)
Seleção: 18 jogos e 5 gols marcados

Texto publicado no Trivela em 28 de janeiro de 2011: http://trivela.uol.com.br/blog/lado-b/duncan-edwards-o-destino-fez-uma-lenda/